O povo Naxi é um grupo étnico que habita o sopé dos Himalaias, em algumas regiões das províncias de Yunnan e Sichuan, no sudoeste da China. Muita da sua identidade cultural está relacionada com as antigas rotas da seda e do chá, que ao passarem por esta paragens, durante séculos, conseguiram mesclar algumas das características que melhor definem e caracterizam os povos Han e Tibetano. A atmosfera que se vive na região desde sempre ajudou na promoção do desenvolvimento de qualidades artísticas e culturais, muito alicerçadas pelo talento inato que os Naxi sempre demonstraram para a caligrafia, pintura e poesia. Contudo, e apesar de toda esta imensa aptidão, a música acabou por se destacar como um elemento distinto, que se manteve sempre num patamar acima de quaisquer outros talentos; aquilo que o povo sempre demonstrou conservar como verdadeiro dote natural.
Embora se acredite que a estrutura base da tradicional música Naxi, também conhecida como Música Taoista de Lijiang ou “O tesouro nacional”, tenha as suas raízes na antiga música Xian, também é certo que a mistura com textos literários, temas poéticos e estilos musicais produzidos pelas dinastias Tang (618-907) e Song (960-1279), além das inevitáveis influências tibetanas, contribuíram para o desenvolvimento de um estilo absolutamente único. Além das suas características muito próprias, a antiga música Naxi é também o resultado da preservação originada pelo isolamento geográfico que ao longo dos tempos o seu povo se viu submetido. Curiosamente, as muitas transformações que a rica história chinesa se encarregou de produzir ao longo dos séculos, nomeadamente na zona central do país, contribuíram para o desaparecimento de uma série de aspectos culturalmente importante, como é o caso da música que se perpetuou junto das comunidade Naxi. Com os seus mais de 500 anos de história, a música Naxi é considerada por muitos como “a máquina do tempo” que permitiu preservar e trazer até os nossos dias composições, que em outras condições poderiam ter-se perdido irremediavelmente, como infelizmente aconteceu com a música Huangjing yinyue. De qualquer modo, subsistem ainda dois tipos de música: o Baisha xiyue e o Dongjing yinyue.
Música Baisha xiyue
Baisha, uma cidade localizada dez quilómetros a norte de Lijiang, foi a capital do reino Naxi independente até à sua anexação pela dinastia Yuan (1271-1368). Habitualmente associada ao legado deixado por esta dinastia, a música Baisha xiyue é muito interessante na medida em que, além de muito antiga, é uma das versões completas para peças clássicas de música de orquestra, onde se incluem coros, diversos enredos e vários movimentos musicais. Além da dança e de canções que contam várias histórias, a música Baisha xiyue consiste num conjunto instrumental, composto por vinte e quatro músicas, localmente conhecidas como qupai.
Música Dongjing yinyue
Trata-se de um tipo de música, proveniente do centro da China, particularmente acarinhado e muito enraizado na cultura do povo Naxi. Introduzida gradualmente na província de Yunnan pelas dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911), a música Dongjing yinyue é o resultado desta influência secular e das características endógenas do saber Naxi, através das quais foi possível introduzir estilos muito próprios na interpretação e métrica desta música.
Durante muito tempo, e após o estilo se ter generalizado na zona, o seu gozo esteve confinado exclusivamente ao senhores, pois eram os únicos autorizados a participar em concertos Dongjing yinyue. Esta limitação foi, contudo, sendo esbatida através de um grande envolvimento das novas gerações na música e no que ela representava historicamente.
Música Naxi nos dias de hoje
Após um longo período de interregno, onde a música Naxi muito raramente foi tocada em público, em 1986 são dados os primeiros passos no sentido de trazer novamente esta sonoridade secular até junto das pessoas. Assim, e após alguns concertos pontuais realizados durante os dois anos seguintes, a Associação Dàyuān de Música Antiga Naxi passa a realizar concertos públicos regulares, que desde logo se revelam um enorme sucesso e despertam interesse num grande número de musicólogos nacionais e internacionais. Além portas, a sua reputação estende-se através de vários concertos realizados em países como a Noruega, Grã-Bretanha, Alemanha ou Estados Unidos da América.
Concerto de antiga música Naxi, Lijiang
Com o seu centro histórico classificado pela UNESCO como património da humanidade, a cidade Lijiang, na província chinesa de Yunnan, é actualmente um dos locais mais conhecidos para escutar e conhecer a música tradicional Naxi. Apesar de nos dias de hoje este tipo de espectáculos musicais estarem muito virados para o turismo, através das muitas iniciativas que as agências de viagens promovem neste sentido, a experiência resultante da audição ao vivo desta música secular, além de nos fazer atravessar séculos de história, seguramente que não deixa ninguém indiferente. A música tradicional Naxi é fascinante e até certo ponto hipnotizante.
Soprano em concerto de antiga música Naxi, Lijiang
Além de inúmeras bandas que se dedicam ao ensino e expressão da música Dongjing yinyue na cidade de Lijiang, existem pelo menos quatro orquestras completas, habitualmente caracterizadas por três elementos ligados a uma sólida experiência do saber perpetuado pelo tempo: os homens idosos, pois a maioria dos músicos tem mais de 70 anos; os instrumentos antigos, que na sua generalidade ultrapassam os 100 anos; e as canções antigas, na sua grande maioria compostas por música clássica secular. Outro facto curioso, e ao contrário que possa parecer, as orquestras não são comportas por profissionais, pelo que uma grande parte dos seus membros são oriundos de todo o tipo de profissões e ocupações: artesãos, agricultores, professores ou carpinteiros, são apenas alguns exemplos.
Trecho musical de flauta em concerto de música Naxi, Lijiang
Genericamente os concertos de música Naxi podem ser apresentados de duas formas distintas: com os músicos sentados ou de pé. No primeiro caso, todos os elementos são cuidadosamente distribuídos por uma grande orquestra, que envolve a utilização de mais de duas dezenas de instrumentos musicais, para que se possa desenvolver uma prestação semelhante à música da câmara. Já no segundo caso, trata-se de uma apresentação mais informal, com menos elementos e instrumentos. De qualquer modo, e independentemente do tipo de apresentação que possa ser desenvolvida, envolve sempre uma grande multiplicidade de instrumentos: os de sopro, como o Sheng, Guan ou Dizi; os de percussão, onde podemos encontrar o Dagu, Paigu ou Huzuo Dagu; os de cordas, como a Huqin, Jinghu, Yangqin ou vários tipos de alaúdes e harpas; bem como outros instrumentos de pedra ou metálicos.
Trecho musical destacado pela flauta e canto tradicional Naxi, na cidade de Lijiang
Não sendo os únicos locais onde se podem desenvolver contactos com a música Naxi, o “Palácio Dongba” e o “Naxi Concert Hall”, em Lijiang, são neste momento as duas casas mais famosas da cidade, onde diariamente são realizados concertos.
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