Uma das formas de sustento destas famílias passa pela venda pelo seu artesanato. Insistentemente tentaram que comprássemos uma qualquer peça ao pronunciar repetidamente as palavras Compre… Lleve… Durante a estada na Ilha de Uros tivemos também a oportunidade de nos deslocarmos numa réplica de uma embarcação que se crê ser a primeira a navegar no lago Titicaca. Também ela é construída à base de Totora é conhecida como “Mercedes Bens”, pois foi durante muito tempo o único meio de transporte disponível no lago. Chegados à hora da despedida, as mulheres presentearam-nos com um eloquente “Hasta la vista babe”.
Seguimos para uma ilha um pouco mais longínqua, facto comprovado pelas cerca de três horas que demoramos a chegar, sempre na companhia de muitas ondas e abanos. Em Amantani – assim de chama a ilha – tínhamos mais uma vez um conjunto de homens e mulheres, vestidos a rigor, para nos receber. Foi, no entanto, uma recepção diferente. Mal saímos do barco, separaram-nos e juntaram-nos a grupos distintos. A nós calhou-nos a Norma: uma senhora algo tímida, talvez com uns 30 anos, que nos levou para sua casa, cozinhou uma excelente refeição e mostrou sempre um enorme sorriso nos lábios. Como primeiro prato comemos uma Sopa de Quinoa e depois um saboroso e abundante arroz com batatas e queijo frito. Como nos encontrávamos em altitude – cerca de 3800 metros –, ofereceu-nos também muña: uma planta utilizada para fazer chá, que aumenta a oxigenação do sangue e combate o mal da altitude, também conhecido como el Soroche. Amantani situa-se em frente da Ilha do Sol, onde os pré-incas construíram templos dedicados à Pachamama e à Pachatata. Entre estes dois templos há a crença que existe uma uma poderosa onda de energia, facto que justifica o elevado número de pessoas, com origem dos mais improváveis locais do mundo, que se deslocam a este local para fazerem as suas meditações.
Tivemos aqui uma noite verdadeiramente fantástica! Vestimo-nos tal como os nativos da ilha e fomos para uma festa. Um grupo tocou e cantou músicas tradicionais, às quais tivemos de responder com dança. Gentilmente, a Norma fez questão em nos chamar de cada vez que uma música começava, mas a certa altura os seus olhos já começavam a fechar-se – o dia começa para esta gente às 4h da manhã e já eram 10h da noite –, ou seja, era chegado o tempo do descanso. Nós bem que queríamos entrar pelas profundezas do sono, mas a chuva, que a certa altura começou a cair intensamente, não nos deixou!
Ainda não eram 7h quando a Norma bateu à porta para tomarmos o pequeno-almoço; na mesa esperava-nos uma panqueca e um chá, que tivemos de ingerir à pressa pois tínhamos encontro às 7h30 em porto. A chuva continuava a cair e o lago Titicaca estava a mostrar-nos que também sabe revoltar-se. A hora que passámos dentro do barco pareceu estender-se por 3 ou 4 horas. Entre sacudidelas e abanos mais violentos, fechávamos os olhos na expectativa que a tormenta passasse mais rapidamente, mas não. Nada feito! Só muito mais à frente o sol reapareceu e as águas voltaram à serenidade habitual. Daí até Puno, sinónimo de terra filme, tudo voltou à normalidade dos dias anteriores. Chegados a terra, fomos logo procurar e comprar o bilhete para Cusco. Disseram-nos que sairia mais barato se comprado no dia e assim fizemos. Como o autocarro só partiria à noite, tivemos tempo para descontrair e fazer outras coisas: almoçar, passear um pouco e levantar algum material que tínhamos deixado no hostel. Estava na hora de partir para um dos locais mais enigmáticos desta viagem: Cusco e tudo e toda a magia que está em seu redor. Mal podíamos esperar pelo movimento do autocarro! Cusco que nos esperasse porque nós já estávamos muito perto!
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