Torres del Paine. Uff!
Após uma longa viagem de autocarro, com quatro paragens desde o norte da Patagónia até ao Sul, chegámos a Puerto Natales: uma cidade pequena e pacata, mesmo como eu gosto. É o oposto a Buenos Aires. Ficámos aqui 2 noites – na véspera da partida e após o regresso das torres.
Antes da saída fizemos as compras para nos sustentarmos durante os dias de caminhada. E lá fomos nós com 15 a 20 kgs às costas.
Chegámos ao Parque das Torres del Paine. Pegámos num mapa e escolhemos a nossa rota. Pensámos em deixar a mala no primeiro refúgio, mas tal não foi possível; primeiro porque tínhamos de pagar por cada dia e segundo porque a partida não seria feita do mesmo sítio da chegada. Nada a fazer. Metemo-nos ao caminho. Fizemos cerca de 15 kms por dia a subir e a descer, com os tais quilos as costas. Para quem está habituado creio que não será um esforço de morte. Para nós foi. Não estamos habituados a fazer trekking e este fez-nos conhecer um pouco mais os nossos limites, dando-nos a entender um pouco melhor de nós mesmos. Os dias foram todos eles muito diferentes uns dos outros; tanto a nível do clima, da geografia e da vegetação. A paisagem, essa, é linda. O som da corrente dos riachos, o forte murmúrio dos ventos austrais, o sapateado do companheiro, o lamento do bosque, o verde da floresta, a neve junto às torres, a chuva de um dia inteiro, sempre acompanhada de lama e de pés molhados, o voo do condor e o cantar dos passarinhos, o vermelho intenso das flores, predominante em todo o parque nacional, foram algumas das coisas que trouxemos connosco a troco do sacrifício prestado. Mas como é um sacrifício comum, as pessoas são mais simpáticas; vai contra aquela que encontrámos na cidade. Por cada pessoa que cruzávamos havia um sorriso ou um cumprimento, quer fosse em espanhol ou em inglês. E a entreajuda também está muito presente.
No primeiro dia, como não dispúnhamos de gás, um casal alemão ofereceu-nos água quente para fazermos um chá e nós oferecemos umas bolachas para acompanhar. E por ali ficámos umas horas no diálogo e na troca de experiências no parque. Na manhã seguinte acordámos bem cedo; eram cinco da manhã. Fazia frio e quase que não havia luz. Sabíamos que o sol atingia as Torres del Paine por volta das 6h00. Estávamos no acampamento mais perto e não críamos perder as luzes da aurora a iluminar as torres. Assim, subimos até aos 1000 metros de altitude e às 5h50 já lá estávamos. E lá estavam as torres. As três. Como já tínhamos visto outrora em postais. E estavam visíveis. Bem visíveis. Ainda que só tenham permanecido assim durante 10 minutos, antes de começar a nevar intensamente. Apesar das dores nos meus joelhos, na anca da Catarina e nas bolhas dos seus pés, das dores nas pernas e nos trapézios por transportar as malas, da constante queixa de todas essas dores e da mudança de humores – principalmente no dia em que só choveu – valeu a pena. Valeu muito a pena.
Não sei se faço intenções de aqui voltar. Mas por toda a diversidade de fauna e flora, bem como pelo prémio em alcançar o topo onde se avistam as três torres com quase 3000 metros, e onde todo o caminho nos faz ser mais e melhores, fez valer esta primeira vez.