Depois de uns dias muito bem passados em Muang Sing, parte de um Laos profundamente tradicional, decidi mover-me para Muang Khua onde apanhei um barco, por sinal muito lento, até Muang Ngoi Neua. É em tom de desabafo que o faço, mas não posso deixar de verificar que no Laos tudo é demasiado lento. Percorrer os cerca de 300 Km até Muang Ngoi Neua custou-me dez horas de viagem de autocarro, incluindo três mudanças, uma noite num lugar que não lembra a ninguém e a tal viagem de barco que, para terminar em beleza, demorou mais umas cinco horas. E ainda que tudo tenha custado menos de 10 €, o certo é demorei um dia e meio para chegar onde queria.
Mas será que valerá a pena sujeitarmo-nos a estas dificuldades? Não tenho a mais pequena dúvida que sim! Recomendo a todos os que venham ao Laos que passem uns quantos dias em Muang Ngoi Neua. Situada junto às margens do rio Nam Ou, com apenas 800 habitantes e um número de turistas que raramente ultrapassa as 20 pessoas, a pequena vila é um excelente lugar para descontrair e fazer várias caminhadas até às povoações tribais que se encontram nas imediações. As belíssimas paisagens, a ausência de carros, a excelente comida e um povo sempre sorridente, são outros factores que fazem deste lugar especial.
No meu terceiro dia em Muang Ngoi Neua, para além da invulgar música que se fez ouvir logo pela manhã, reparei que as crianças não foram à escola e que o povo se encontrava ansioso, mas genuinamente contente. Era uma situação fora do padrão normal, pelo menos quando comparada com o que vivi nos primeiros dias, mas que rapidamente se esclareceu quando falei com alguns habitantes que falavam inglês. Fiquei a saber que o presidente vinha visitar esta pequena vila para anunciar a disponibilidade eléctrica durante as 24h do dia – normalmente só estava disponível entre as 18h00 e as 21h30. Era, portanto, dia de festa e de vestir as melhores roupas para receber o senhor presidente.
Embora o Laos só tenha uma população que ronda os 7 milhões de habitantes, vê-se que as pessoas gostam genuinamente do seu presidente, ainda que seja um país comunista. Não o senti obviamente por palavras, uma vez que não falo a língua local, mas antes pelos sorrisos, expressões ou atitudes que não escapam aos mais atentos. Talvez seja algo que atravessa a cultura dos países da região, pois vi algo muito parecido na Tailândia por ocasião da comemoração do Dia do Rei. Também aqui a alegria era geral e povo estava em comunhão com o seu rei.
Não deixa de ser curioso o antagonismo entre esta realidade e a dos países ocidentais, onde há muitos presidentes que vivem no medo, talvez com razão, pois passam o tempo a evitar as pessoas que os elegeram, já para não falar que só saem à rua na companhia os seus pupilos vestidos de preto.
Acabei por receber o presidente de um país, coisa que não faria no meu, só pela alegria e emoção que via estampada nas faces de todos os que vivem em Muang Ngoi Neua. É verdade que não sei quais os méritos e que o presidente terá feito de bom ou de mau, mas nestas coisas a ignorância de quem vem de fora pode até ser uma grande bênção.
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