No dia seguinte, acordamos e saímos para passear mais um bocadinho. Com o “pai George” fomos comprar o que precisávamos para o almoço, voltado de seguida para casa. Estava na hora de fazermos uma Tortilla! Liderados pelo Chef, almoçamos uma verdadeira iguaria feita de ovo, alho francês, cenoura, um fideo (esparguete em forma de arroz) e uma Chorillana ou refogado com pimento, cebola e tomate. A manhã acabou por se revelar um período de descanso.
A nossa tarde foi feita de passeio nas Calles de Regalos. Às tantas, tudo nos parece igual. O comércio apresenta-se cheio de cores, com objectos muitas vezes também vendidos em Portugal, como é o caso das calças, casacos, ponchos coloridos e os variados instrumentos de sopro. À tardinha, numa praça das imediações, estava a haver um concurso de coros de crianças. Cada coro tinha direito a três músicas de Natal. Ouvimos um bocado a cantaram em linguas como latim, inglês e alemão. Acabamos por não estar até ao fim porque estava frio e a fome começava a apertar. Seguimos directos para a cadeia de fast food preferida capital. Chama-se Pollo Copacabana e é como o KFC mas muito, muito melhor! Uma curiosidade que encontramos na Bolívia é que todas as ruas têm um cheiro muito familiar para nós: existe frango assado em todo o lado, sempre com o mesmo cheiro a nos habituámos.
Quando acordamos no dia seguinte – 21 de Dezembro – demos conta que seria o dia onde supostamente deveríamos continuar viagem. Contudo, a experiência em La Paz estava a ser muito boa, encontrávamo-nos bem integrados e o Natal chegaria dentro de dias. Pensámos que poderíamos ficar mais um bocado e celebrar a festividade em conjunto com a família Parrado. Seria uma experiência bem diferente, pese embora já tivéssemos passado um Natal em Dublin e, no ano passado, em Trapani, Itália.
Depois de nos decidirmos, fomos fazer as compras de Natal, coisa muito fácil pois estávamos na presença de pessoas simples. Depois de compras feitas, junto ao entardecer e na hora de voltar a casa, o tempo trocou-nos as voltas. Começou a cair uma chuva, acompanhada de um granizo, como nunca tínhamos visto antes; as bolas de gelo eram bem grandes, talvez ligeiramente mais mais pequenas do que um berlinde. O nosso ponto de abrigo foi a catedral, que já se encontrava bem cheia, em parte por serem horas da missa. Quando a pequena tormenta terminou havia um manto branco e muito escorregadio na estrada. Parecia mesmo que tinha nevado, pois é a impressão que se tem ao ver o granizo todo junto.
No dia antes da véspera de Natal decidimos fazer o caminho da morte – a estrada mais perigosa do mundo. E não a fomos fazer de carro, mas em bicicleta. Acordámos com um grande sorriso e uma imensa vontade em fazer esta estrada. No ponto de encontro encontramos o resto da nossa equipa, essencialmente composta por malta nova de diferentes nacionalidades: alemães, noruegueses, brasileiros, suíços e canadenses. Tomamos o pequeno-almoço juntos, onde aproveitámos para nos começar a conhecer. Vestimo-nos e fomos para o autocarro que nos levaria ao Cumbre, ponto entalado a 4700 metros de altitude, de onde se inicia a vertiginosa descida de 67 quilómetros com um desnível acumulado de 3100 metros. Chegados ao ponto de partida, já vestidos a rigor, e quase como de ciclistas profissionais nos tratássemos, recebemos o briefing inicial da entidade organizadora da actividade. Sempre efectuada sobre o asfalto, a primeira descida foi espectacular. Normalmente, fazem este troço em aproximadamente uma hora, mas o nosso grupo fê-lo em metade. Foi sempre a abrir! Todos se deitavam sobre a bicicleta para ganhar (ainda) mais velocidade. Uma emoção! E para além disto, estivemos sempre rodeados por belas montanhas e suas cascatas.
Depois de 30 kms em asfalto, chegamos finalmente à famosa estrada da morte. Aqui o asfalto é substituído por terra batida, cheia de pedras grandes, onde só passa um carro e com um precipício lateral com mais de 300 metros. Basta um passo mal dado e… Arrivederci. Acho que o risco é que faz valer a pena passar pela experiência. Os níveis de adrenalina atingem níveis muito altos, pois sabemos que a probabilidade de ir ao chão é grande e que a possibilidade em perder a vida também está presente. Felizmente ninguém do grupo morreu. Verdade seja dita, também escolhemos uma empresa onde em 10 anos apenas uma pessoa teve o azar de perder a vida.
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