Concluída a inesquecível experiência que resultou nos 14 dias de meditação em Wat Doi Suthep, estava na hora de voltar à cidade de Chiang Mai. Os cerca de 30 quilómetros que separam as duas latitudes foram feitos sem grandes pressas, mas logo nessa noite decidi ir à feira que se realiza todos os Domingos. É um evento festivo onde todos aparecem, sejam turistas ou habitantes locais.
No início tudo parecia um caos: torrentes de pessoas que se movimentavam com dificuldade, através de uma espécie de corredores limitados por bancas de vendedores; artistas que procuram mostrar os seus dotes artísticos, tentando com isso ganhar o seu pão; ou uma infinidade de turistas, alguns já meio aviados por grandes quantidades de cerveja. Que grande abanão! Era definitivamente demasiada confusão, sobretudo depois de ter estado tanto tempo na serenidade de um templo.
Sem saber muito bem o que fazer naquele momento, parei e concentrei-me. Respirei fundo e decidi andar ainda mais devagar, procurando-me abstrair daqueles elementos perturbadores. Comecei então a ver a feira com outros olhos e o caos tornou-se mais harmonioso. O segredo estava afinal em focar-me mais na alegria que me rodeava. Simples, não é?
Nos dias que se seguiram, e que antecipavam o festival das luzes – Loi Krathong –, optei sobretudo por caminhar pelos parques e templos da cidade, para que a transição para uma vivência do dia-a-dia fosse mais suave.
Noite de lua cheia. Noite de festa. Noite de Loi Krathong
Loi Krathong – também mencionado como Loy Kratong ou Loi Kratong –, é um festival celebrado anualmente na Tailândia, Laos e Myanmar (antiga Birmânia), por ocasião do décimo segundo mês lunar tailandês, habitualmente coincidente com o mês de Novembro do calendário ocidental.
Durante o festival as pessoas correm para as ruas, aos milhões em todo o país, para largarem uns candeeiros feitos de massa de arroz que, quando acesos, se elevam até se perderem nos confins dos céus. Simplificando, são pequenos balões de ar quente, talvez aqui promovidos a faróis da alma, pois são o transporte de todos os maus sentimentos de que as pessoas se querem livrar.
É uma noite mágica, em que todas as pessoas estão contentes, mandam foguetes e um número inimaginável de candeeiros ao ar. O Loi Krathong é um espectáculo único no mundo, onde a imensidão do céu se enche de incontáveis pontinhos brilhantes, que se movem ao sabor do vento. Foi uma experiência que não vou esquecer e que recomendo a todos os que por esta altura do ano viajem para estas latitudes.
Acabado o festival, nos dias que se lhe seguiram, parti ao encontro de um novo teste ao interior do meu ser, desta vez assente em voluntariado. Passei uma semana numa quinta orgânica, na companhia de dois rapazes que já lá se encontravam, a construir as paredes e o tecto de uma casa de banho, tudo trabalhado em bamboo. O ambiente geral era muito bom e, melhor ainda, a mãe natureza disponibilizava todos os materiais de que precisávamos – exceptuando ferramentas e pregos –, bem como a comida orgânica de que necessitávamos, o que no meu caso fez-me sentir com mais energia do que é normal. Foi definitivamente uma experiência também ela muito gratificante e, ainda que só tenha sido por um período de uma semana, já foi bom para aprender um pouco sobre permacultura e sobre construções naturais.
O caminho aponta agora para Norte e para o Laos. Antes disso há que atravessar a fronteira natural criada pelo Mekong, um rio relativamente estreito mas que ultrapassa os 1500Km de comprimento.