O Ano da Todi
Termino com uma curiosidade. Entre as personagens mais famosas do Carnaval Veneziano destaca-se uma portuguesa. A nossa mezzo-soprano Luisa Todi passou alguns meses na Sereníssima entre finais de 1791 e os primeiros meses de 1792. Foi aí que ela alcançou o auge da sua carreira e obteve um extraordinário sucesso. Ainda hoje os livros recordam essa temporada gloriosa. Os seus admiradores, numa homenagem nunca vista, fizeram gravar um retrato da diva sob o qual colocaram a legenda: “Em Veneza, no Ano da Todi”. Disseram então as más-línguas que nos tempos de glória da cidade a inscrição teria sido bem diferente: “Em Veneza, no ano da Batalha de Lepanto” (annus victoriae navalis)”. Depois da Todi, os habitantes da República teriam uma visita muito menos agradável: Napoleão Bonaparte. Mas essa é uma outra história.
Locais de interesse
La Fenice. Uma das mais célebres óperas europeias, La Fenice ardeu em 1996; mas, fazendo justiça ao seu nome, renasceu agora para gáudio dos apreciadores. Vale a pena apreciar in loco o excelente trabalho de recuperação (Campo San Fantin, San Marco 1970).
Harry’s Bar. O famoso Harry’s nasceu em 1931, e aí foi inventado o Bellini. Diz-se que Hemingway era bastante parcial para com o famoso cocktail. No andar superior há um dos dois únicos restaurantes com estrelas Michelin de Veneza. Leve o cartão de platina.
Caffe Florian. Tome uma bica com os fantasmas de Proust, Henry James e Lord Byron. Conheça a extraordinária arrogância dos empregados de mesa italianos. O café situa-se na Praça de São Marcos, por isso é impossível perder-se.
Galeria da Accademia. Tintoretto, Giorgione, Lotto, Mantegna. Como todos os grandes museus italianos, a Accedemia é um verdadeiro who’s who da arte do renascimento. E neste caso, possui também um belíssimo espólio medieval.
Palácio dos Doges. Onde se reunia o Grande Conselho? Onde se escondiam os terríveis Dez? E as masmorras, eram limpinhas? Uma visita ao Palácio dos Doges responde a todas as suas inquietações. Antes, visite as colunas e os capitéis exteriores, com maravilhosos motivos góticos que entusiasmaram John Ruskin muito para além do que a senhora Ruskin teria desejado.
Canal Grande. A alta burguesia veneziana só queria duas coisas: uma quinta no Brenta e um palazzo no Canal Grande. Todos os doges da república tiveram aqui a sua moradia, até serem substituídos pela aristocracia inglesa e pelas herdeiras americanas. A melhor maneira de conhecer o canal grande é apanhar o vaporetto nº 1 e respirar fundo. Ninguém se esquece da sensação.
Basílica de São Marcos. Quando Veneza saqueou Constantinopla (uma história triste) foi aqui que se colocaram muitos dos despojos. A basílica é um repositório do que há de mais sublime na arte e na cultura bizantinas. Depois de ver isto, ninguém fica a achar que Deus é brasileiro.
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