A Irlanda é um pequeno país, uma ilha no Oceano Atlântico, um dos pontos mais a oeste de toda Europa. São aproximadamente 4,5 milhões de habitantes espalhados por um território que é aproximadamente quatro vezes menor que o estado de São Paulo, no Brasil. O país é repleto de maravilhas naturais, as paisagens são incríveis e surpreendem o viajante o tempo todo. A cultura é riquíssima e marcada pela herança celta, pela cerveja, pela música, mas o que há de mais encantador em todo o país são os irlandeses: uma mistura de bom humor, acolhimento e pouca preocupação que fazem deles um dos povos mais anfitriões, divertidos e companheiros que já conheci.
A capital Dublin é o grande centro urbano e cosmopolita do país. São pouco mais de 500 mil habitantes que dão à cidade movimento e vida na medida certa, o que é complementado por um aspecto bucólico e provinciano que só as cidades pequenas têm. Dublin é especial justamente por ter uma pequena grandeza. A cidade tem uma dimensão que é perfeita para quem gosta de bicicletas, as distâncias são curtas demais para ir de um lugar ao outro de ônibus, mas são um pouco longas para caminhar. Claro que é possível fazer tudo a pé, sabendo que vai demorar um pouco mais. Aliás, estar na rua é sempre uma boa opção em Dublin, apesar da chuva e vento que geralmente estão presentes. Ao andar por suas ruas e avenidas, o viajante vai poder estar em contato com o que há de mais charmoso na cidade, a própria cidade.
Dublin é dividida ao meio pelo Rio Liffey. Ao longo de todo seu percurso, no centro da cidade, são diversas as pontes que o atravessam, tornando o cenário belíssimo. Caminhar pelas margens do Liffey é um dos principais passeios que se pode fazer. O lado norte da cidade possui zonas comerciais e administrativas, além de bairros residenciais mais simples. E do outro lado do rio, na zona sul, estão os principais pontos turísticos, áreas comerciais mais nobres e os melhores bairros residenciais.
Um bom ponto de partida para começar a conhecer a cidade é a O’Connel Bridge, bem no centro de Dublin. Dali se tem vistas incríveis para o rio e o cenário completo da cidade. Saindo em direção ao sul, se pode passear pelos jardins do Trinity College of Dublin, a principal e mais antiga universidade do país, fundada em 1592. Seguindo pela Grafton Street, um enorme calçadão comercial em que o viajante facilmente encontrará artistas de rua, é possível chegar ao St. Stephen’s Green, um agradável parque onde se pode descansar um pouco e aproveitar o sol quando ele dá sua cara. Um pouco mais adiante está o Grand Canal, um canal de água que atravessa a cidade e desagua no Liffey bem a leste, quase no mar. Nessa região da cidade, se pode perceber toda a tranquilidade e suavidade de Dublin.
Se o viajante seguir o canal na direção oeste pode caminhar até a Clanbrasil Street onde, após algumas quadras, chegará na St. Patrick’s Cathedral, construída no século V e local de batismo dos primeiros irlandeses cristãos. Mais algumas quadras e se está na Dublin medieval. Lá ficam o Castelo de Dublin e a Dublinia, uma recriação da cidade desde o século XII com diversos objetos de época. Algumas ruas a leste está a região do Temple Bar, recheada de restaurantes e pubs, talvez um dos melhores lugares para conhecer um Irish Pub e ouvir música ao vivo. Não deixe Dublin sem ter ouvido “Galway Girl” ou “Wagon Wheel” ao vivo, tomando, claro está, um pint de Guinness. Esta região pode ser um pouco cara e muito cheia de gente, dependendo do pub, mas para bares mais baratos e (talvez) menos cheios, procure bairros um pouco mais afastados. Posso garantir que a mística do Irish Pub seguirá intacta e talvez até seja mais autêntica, já que o número de turistas será menor.
A cerveja irlandesa mais famosa é sem dúvidas a Guinness, com gosto forte e amargo. Muitos, ao provarem pela primeira vez, afirmam tomar café. O que acontece é que há algo realmente especial nesta cerveja, principalmente naquela que é tomada na Irlanda. Segundo dizem existem diferenças na água que é utilizada no processo de produção. A fábrica da Guinness fica bem no centro de Dublin e pode ser visitada. Lá se conhece todo o processo de produção, a história da cervejaria e da cerveja que se tornou símbolo do país. No final o visitante ganha um pint de cerveja e pode apreciar uma bela vista da cidade do alto do prédio da fábrica. Algo imperdível.
Com alguns dias na cidade e conhecendo alguns pubs irlandeses, o viajante perceberá que há algo realmente especial e mágico com a cerveja irlandesa. Toda essa mística ficará ainda melhor caso a opção seja curtir a noite e encontrar uma discoteca. Duas boas opções são o The Palace, enorme prédio conhecido por receber estudantes irlandeses com boa música eletrônica e cerveja barata, ou o Diceys Garden Bar, na Harcourt Street, que garante a balada de segunda a segunda. Com diversas promoções e festas temáticas o bar está sempre cheio e animado. Praticamente toda segunda-feira há uma promoção e todas as bebidas custam só dois euros. Chegue cedo, aproveite a música, a cerveja barata e prepare-se para conhecer pessoas fantásticas. Outra boa opção é o Cassidys Bar, um pub conhecido por seu antifascismo. O lugar tem uma decoração caprichada e conta com a vantagem de servir cervejas das pequenas cervejarias irlandesas, algo que você não encontra em qualquer lugar da cidade. Além disso, a música também foge um pouco do padrão e tem uma temática mais “alternativa”.
Ótima opção para quem acorda um pouco mais tarde – talvez de ressaca – e quer comer bastante é o Irish Breakfast, geralmente servido em pubs ou restaurantes. É o equivalente a um enorme café da manhã no Brasil. Com salsicha, ovo, pão, bacon, batata, café, feijão e suco de laranja, é uma das particularidades da cozinha irlandesa e deve ser provado. Garanto que você vai ficar um bom tempo sem sentir fome. E o melhor de tudo é o preço, pois geralmente é bem mais barato que um prato comum.
A cidade conta com muitas outras atrações: a destilaria Old Jamenson, o local onde era fabricado o famoso whiskey irlandês, onde é possível conhecer a história da empresa e o processo de produção da bebida; o Kilmainham Gaol, prisão construída no século XVIII, que nos séculos XIX e XX serviu de estabelecimento de detenção para aqueles que lutavam pela independência da Irlanda; ou ainda o Phoenix Park e a Samuel Beckett Bridge, famosa por seu design. Mas como já disse, a melhor maneira de conhecer a cidade é caminhando e se deixando perder por suas ruas e caminhos. Assim se pode sentir melhor o clima e o astral da cidade. Um pouco afastada, mas imperdível, está a Penísula de Howth. Para chegar lá o jeito é pegar o metro de superfície e descer na estação de mesmo nome. No local há um vilarejo e um pequeno porto, onde ficam diversos barcos de pescadores. Também é possível encontrar focas e leões-marinhos. Quem quiser caminhar um pouco pode dar a volta no morro que está na península e ter uma linda vista para a Baía de Dublin.
Após alguns dias em Dublin saí de lá com a impressão de que a vida na cidade tem a mistura ideal de tranquilidade, simplicidade, diversão e ação. É uma capital, mas com astral e ritmo de vida de interior, onde é possível se divertir com pouco, com o simples e com o autêntico. Os irlandeses e os dubliners são a mostra de que não é preciso ter muito para estar de bem com o lugar onde se vive.
A Irlanda é muito mais do que Dublin. A capital do país tem seu charme e suas atrações imperdíveis, mas para conhecer o país de verdade é preciso se perder por seu interior e suas belezas. Uma primeira parada são as Wicklow Mountains. A beleza da região está na natureza, nas incríveis montanhas, lagos e estreitas estradas. É possível conhecer a região em um passeio de um dia, mas o ideal é planejar uma pequena roadtrip pelo país (a mão inglesa será um problema só nos primeiros dez minutos de condução). Depois de passar pelo Wicklow Mountais National Park, o ideal é seguir em direção à costa oeste, onde está um dos mais belos pontos turísticos do país: os Cliffs of Moher.
Para chegar lá é preciso percorrer aproximadamente 280km atravessando o território. No meio do caminho estão interessantes cidades como Limerick, quarta cidade em importância na Irlanda. Não há muito o que se ver por ali, mas passar por lá é uma boa forma de tomar contato com a Irlanda para além dos turistas e estradas estreitas. A poucos quilômetros de distância está a charmosa cidade de Ennis, cidadezinha que com quase 25 mil habitantes é uma excelente expressão da Irlanda interior. Vale a parada e uma breve caminhada pelo centro, e porque não, para comer um sanduíche na beira do rio Fergus que passa com força formando pequenas corredeiras. Seguindo viagem se chega a Lahinch, um lindo vilarejo na beira do mar e foz do rio Fergus. A paisagem é deslumbrante e com o sol ou chuva, tão característicos do país, é possível perceber o que a Irlanda é de fato. Campos verdejantes, cercas de pedra, pequenas casas isoladas. Um cenário encantador.
Finalmente, após subir uma longa colina, se chega ao centro de visitantes dos Cliffs of Moher. Um enorme estacionamento do lado direito da estrada mostrará que se está no lugar certo. Se você for visitar a região no verão, o ideal é chegar depois da hora do almoço, quando a maioria dos ônibus de turistas que fazem um daytrip desde Dublin já saíram ou estão de saída. Aproveitar o pôr do sol num cenário deslumbrante é outra opção a ter em conta. Caso vá no inverno o jeito é ir logo pela manhã mesmo. Há que se pagar um ingresso para entrar: 6 € para adultos e 4 € para estudantes e aposentados.
Os Cliffs of Moher são enormes penhascos que acabam diretamente no mar com quase 200m de altura. O ponto mais alto chega a 214m. A vista é impressionante e deixa qualquer um boquiaberto. Ao passear pela Irlanda o viajante verá diversas fotos e anúncios sobre o lugar, mas só ao estar lá é possível perceber a grandiosidade, beleza e paz que este lugar traduz. Com sorte você encontrará um dia de sol, mas prepare-se para chuva, vento e muito frio, mesmo no verão. Saiba que você não vai querer sair de lá. O cenário é fantástico, a vista é linda, é um lugar realmente especial. O modo como é possível chegar na beirada do penhasco fascina e assusta ao mesmo tempo. Qualquer descrição feita aqui não será suficiente para detalhar o que é este lugar. E tenha certeza que uma tarde vai passar mais rápido do que você imagina.
Ao deixar os cliffs, uma boa opção é ir em direção a Galway, terceira maior cidade da Irlanda. Famosa pela canção “Galway Girl” e por suas festas, a cidade é pequena e bastante tranquila. Encontrará um centro antigo, restaurado e muito aconchegante, que se destaca por ter uma praça central, algo raro nas cidades irlandesas. Além disso, a foz do rio Corrib é bem no centro da cidade, dando ao porto e docas um charme diferente. A cidade tem cerca de 75 mil habitantes, mas muitos são universitários, o que garante um astral animado e noites agitadas. Mesmo que esteja apenas uma noite na cidade, aproveite e curta os pubs e discotecas de Galway, mas vá cedo porque a noite não é muito longa.
Ao norte da cidade está o Connemara National Park, um enorme parque onde se destacam as altas montanhas, lagos e fiordes no mar. A região toda é deserta e são poucas as cidades ou vilarejos. A maior parte do cenário é repleta de ovelhas, pedras, água e uma grama bem baixinha. Uma beleza fria e úmida. No meio de isso tudo chama atenção a Kylemore Abbey & Victorian Walled Garden, uma abadia construída no começo do século XX na beira de um lindo lago. É possível visitar a região em um dia viajando de carro, mas para conhecer o parque e suas lindas montanhas com mais calma, o alojamento em um Bed and Breakfast será uma boa opção.
A Irlanda é um país pequeno, mas repleto de riquezas, cores, sabores, paisagens e cenários que a tornam um lugar único e especial no mundo. Conhecer o país e seus habitantes é algo que todos devem ter a oportunidade de fazer um dia.
:: Escrito de acordo com a ortografia brasileira ::