O conjunto de cidades históricas russas que forma o circuito chamado “Anel Dourado” está situado entre Moscou e São Petersburgo. São oito cidades oficialmente incluídas no roteiro, com destaque para Vladimir e Suzdal. Suas construções em pedra branca estão incluídas no Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco.

Um pouco de história: a região foi sede um dos principais grão-ducados que sucederam a Rússia Kievana como o mais poderoso estado eslavo oriental no final do século XII, até o final do século XIV. Tradicionalmente visto como o berço da língua e nacionalidade grã-russa, o governo local gradualmente perdeu espaço para o Grande Principado da Moscóvia, núcleo do futuro do Império Russo.

Vladimir está localizada a cerca de 200 km de Moscou. A partir de lá são necessárias menos de duas horas de viagem de trem a partir da estação Kurskaia (Курская). Para os que iniciam o roteiro da ferrovia Transiberiana, trens modernos (Ласточка 732Н) com letreiros e avisos sonoros bilíngues espantam qualquer imagem clássica dos trens russos.

Chegar a Suzdal exige mais 26 km de ônibus a partir da estação de trem de Vladimir. O acesso ao centro da cidade é realizado por uma avenida de 2km a partir da estação de ônibus – caminhada que no inverno e com um mochilão nas costas se torna um desafio. Esse relativo isolamento geográfico propiciou a Suzdal se manter como um dos destinos históricos mais intocados do país. A cidade conta apenas 12 mil habitantes.

Superadas as etapas de locomoção, um local fascinante se anuncia perante os olhos de quem chega.

São mais mil anos de história, visíveis em construções como o complexo fortificado (Kremlin) cercado por muralhas de barro. O destaque do local é a Catedral da Natividade da Virgem, construída entre 1225 e 1750. A parte inferior, mais antiga, é feita de pedra branca e rocha porosa (tufa), enquanto a instalação dos domos azuis em formato de cebola foram o último item da obra. Seu interior, acessado a partir de um portão dourado de cobre com motivos iconográficos religiosos, exibe magníficas esculturas de pedra e afrescos com imagens dos Testamentos bíblicos datados de 1230, azulejos de majólica coloridos e valiosas peças sacras em ouro e prata.

A caminhada pela Rua Lênin leva os viajantes aos principais pontos de interesse. No inverno, o Rio Kamenka (Ка́менка) congela e é possível caminhar sobre ele para acessar outros pontos de Suzdal. Não deixe de experimentar o Medovukha (Медовуха), tradicional bebida fermentada vendida no comércio local. Mas cuidado, há relatos da venda de falsificações, portanto procure dicas com locais sobre onde comprar de produtores oficiais.

Outros locais exuberantes a serem vistos são os conjuntos do Monastério Salvador de São Eutímio (1352) e do Convento da Intercessão, importantes centros religiosos durante os tempos de Ivan, O Terrível (1547-1584). Ao convento eram enviadas as esposas rejeitadas dos czares e no mosteiro foram aprisionados dissidentes religiosos e políticos.

Voltando a Vladimir, fundada em 1108 e decretada capital do principado no mesmo século durante o reinado de Andrey Bogolyubsky, que supervisionou a edificação de seus marcos arquitetônicos mais importantes e existentes até hoje. As obras foram realizadas com mão-de-obra de construtores proveniente de países europeus como Alemanha e Itália, produzindo uma mescla de arquitetura europeia ocidental e russa.

A Catedral da Dormição (ou Assunção) foi construída com objetivo de ser um centro religioso para toda a Rússia. Sua decoração interior é importante para a história da arte do país e inspirou a construção da igreja de mesmo nome em Moscou. Suas paredes externas são repletas de esculturas elaboradas e seu interior é repleto de murais restaurados do século XII e brilham na cúpula central os afrescos sobre o juízo final datados de 1408.

Vladimir é hoje o centro administrativo da Divisão Federal de Vladimir e tem 345 mil habitantes. Por sua boa estrutura turística para os padrões russos e pela possibilidade de conhecer as origens deste grande país, não deixe de conhecer esta cidade e sua vizinha Suzdal.

Valem os tradicionais conselhos sobre viagens à Rússia. Como não é comum que você encontre pessoas na rua que falem inglês, é muito importante aprender ao menos o alfabeto – para que consiga ler os letreiros das placas – e algumas palavras básicas de educação (com licença, por favor, obrigado, etc). Caso vá no inverno, esses cuidados são ainda mais importantes, pois não é agradável ficar vagando perdido pela rua sob temperaturas congelantes. No mais, a Rússia é uma grande aventura para quem deseja conhecer um país cheio de história e particularidades!

:: Escrito de acordo com a ortografia brasileira ::