A primeira paragem é a estação de Santa Luzia (km 13), que, apesar de a estação estar fechada, tem um armazém aberto para nos abrigar. Do outro lado do rio há a povoação de Amieiro e um teleférico fazia a ligação entre as duas margens. O teleférico está desativado, porque sem comboio não há razão para alguém vir para este lado, pelo que apesar de a povoação estar perto, não vimos forma de lá chegar.
À saída da estação de Santa Luzia, os carris desaparecem por alguns metros. Alguém precisava de vigas para a sua casa e serviu-se, provavelmente, e fez muito bem, acrescento eu. Já que vão submergir tudo, de que servem as vigas ali no chão? Umas centenas de metros à frente, a linha está bloqueada por um desabamento de rochas. Alguém travou o resto do desabamento com cabos de aço, pelo que se passa com segurança pela zona. A partir daqui, com a luz da manhã, começamos a ver a beleza do rio e da linha, que rasgam as fragas. Passamos também pela segunda ponte metálica do percurso. São quatro as pontes metálicas, e todas em excelentes condições de segurança e conservação.
Por várias vezes, a linha segue em paralelo com o rio, bem lá em baixo, tornando a paisagem lindíssima. Mais à frente passamos pela terceira ponte metálica e logo à frente o primeiro túnel.
Dica: Existem 5 túneis, se a memória não me falha, uns maiores que outros. São ótimos pontos de paragem, mas nenhum deles tem condições para se passar a noite dentro deles, porque o chão é cascalho, tábuas e vigas dos carris, sem espaço para mais nada. Ah, e alguns têm morcegos e aranhas aos montes…
Cerca de 5 kms depois de Santa Luzia, chegamos ao apeadeiro do Castanheiro (km 7). O apeadeiro está todo emparedado e não tem sombra nenhuma, mas se olharmos para o outro lado da linha, é impossível evitar um sorriso: uma bela praia fluvial de areia e erva dispõe-se ali para dar descanso aos caminhantes. A água fresca sabe muito bem, e por isso decidimos parar ali para tomar banho, fazer o almoço e deixar passar a hora do calor. Meus amigos, e que bem soube a banhoca! Quando estamos de molho dentro de água, os peixes curiosos aproximam-se dos nossos pés e começam a bicar. É uma esfoliação gratuita muito agradável, e vale bem a pena.
Depois do banho, cozinhámos o nosso esparguete com atum, almoçámos e dormimos a sesta merecida. Não há pontos de água, portanto tivemos de usar as nossas reservas para o almoço. Outra opção será a água do rio fervida. Em caso de emergência será uma opção boa, mas será sempre preferível usar a água que trouxerem de nascente.
Dica: No segundo dia não encontrámos nenhum ponto de água a não ser o rio. É conveniente saírem bem abastecidos de São Lourenço, principalmente se, como nós, pretenderem cozinhar a meio do percurso. Só voltámos a ter água no Fiolhal, no fim do caminho.
Arrancámos já o sol estava mais baixo, para evitar a torreira do dia anterior, até porque a distância a percorrer seria menor. Ao km 6 temos um túnel e uma ponte num dos locais mais bonitos do percurso, com uma encosta de pedra do outro lado do rio. Vale a pena parar e absorver a paisagem. O caminho mantém-se depois sensivelmente o mesmo.
Quase 1 km depois, encontramos o apeadeiro do Tralhariz (km 4). Tem uma das portas emparedadas partida e dá para entrar na estação, mas está muito suja. Aliás, isto foi algo que se notou em muitas das estações onde parámos. Era visível que tinham lá estado pessoas não só pelos restos de fogueiras, mas também pelo lixo acumulado que se via nos locais. Não há pontos de lixo em toda a linha, pelo que é necessário carregarmos todo o lixo connosco. No entanto, há, como sempre, gente muito preguiçosa que deixa as latas de atum e os pacotes de sumo espalhados por todo o lado. Imbecis acho que é o termo científico que os designa…
Depois do Tralhariz começam a ver-se as obras da barragem. Está a ser construída do outro lado do rio uma represa grande para que as terras não venham por aí abaixo quando a água por ali começar a subir, e é aí que nos lembramos que grande parte do que vimos vai desaparecer em breve, e é a parte mais bonita que vai ficar submersa. Fiquei triste pelo local que vai desparecer, e ainda mais feliz por me ter desalojado do sofá e me ter posto a caminho. Não há como conhecer o nosso país para aprendermos a dar-lhe mais valor, e esta memória já ninguém ma tira, nem a água da barragem…
Chegados ao km 3, a linha desaparece por completo para dar lugar a uma via de acesso de transportes pesados às obras. Tirámos as fotos da praxe e iniciámos a subida para o Fiolhal. O caminho de terra batida fica do lado esquerdo da linha e é fácil de encontrar. São 1,5 kms de subida para um desnível de 300m, à torreira do sol, com poucas sombras. No fim do caminho, é doloroso, extenuante, e chegamos lá acima derreados, pelo que atenção a esta subida, o caminho da Linha do Tua não acaba no km 3…
Chegados ao Fiolhal, fomos bem recebidos pela população local que nos abasteceu de água, que já vinha nas últimas, já que na subida foi sempre a consumir. Daqui à Foz do Tua é possível descer a pé, pela estrada ou por atalhos, num caminho de cerca de 6 kms por estrada. Nós tínhamos apontado apenas chegar ao Fiolhal e esperar pelo táxi do Sr. Viriato, a quem tínhamos ligado, mas um simpático habitante do Fiolhal ofereceu-se para nos levar à estação da Foz do Tua, pois ali não havia cafés e lá poderíamos descansar melhor e beber algo fresco. Assim, fomos à boleia numa carrinha de caixa aberta até à estação e lá ficámos a aguardar o Sr. Viriato e o seu táxi.
Dica: Quem pretender fazer o caminho todo tem de contar com a distância para a Foz do Tua. Esses kms a mais podem colocar um peso extra no segundo dia ou eventualmente obrigar a um terceiro dia de caminhada. Nesse caso, seria eventualmente de dormir no Fiolhal, por causa da água, já que não há pontos de água ou aldeias entre São Lourenço e o Fiolhal, ou então arrancar cedo e fazer mais kms de uma só vez…
Luis, algumas pedras no caminho que o táxi fazia tinham, aparentemente, formas de animais. Nós descobrimo-las a muito custo e com muito boa vontade, mas o senhor estava muito convencido que elas existiam… 🙂
“animais feitos em pedra…”?!
Estás a falar de quê exatamente? Explica um pouco melhor, sim?