A escalada é a progressão do corpo por paredes inclinadas ou verticais. As diferentes modalidades deste desporto dividem-se, quer pelo material utilizado, quer pelo tipo de estrutura onde é praticado: escalada em rocha e escalada em gelo são “dois mundos” em parte distintos. Na rocha temos num extremo a escalada Big Wall, que como o nome indica se refere a paredes com centenas de metros, obriga ao transporte de muito material e a pernoitar suspenso; no outro extremo o bloco ou boulder, em paredes geralmente muito baixas mas tecnicamente exigentes, onde basta calçado, magnésio e um colchão para amparar quedas (crash pad).
A modalidade mais praticada e a mais presente no imaginário colectivo é a escalada desportiva. Se quer começar a escalar, provavelmente esta será a melhor variante para o inicio. Ao escalarmos também viajamos: entre a base da parede e o topo fazemos uma descoberta de nós próprios. Os desafios que se nos colocam, diferentes daqueles que temos no escritório ou a atravessar a rua, conduzem-nos por cantos da nossa mente e do nosso corpo que desconhecemos. Depois de escalar pela primeira vez, o mais provável, é que sinta uma enorme alegria e orgulho de si mesmo(a).
A progressão de uma parede, faz-se em diferentes graus de dificuldade e cada via tem a sua cotação. Uma via de grau III, por exemplo, é tão fácil que o mais provável é achar que não tem nada de especial; um V porém, já coloca desafios muito interessantes; e um 9b? Aí acaba a escala e só há um ou dois escaladores no mundo a conseguirem efectuá-la.
Se vai viajar e quer experimentar escalada pela primeira vez, pesquise na internet ou informe-se junto dos operadores turísticos para saber que empresas oferecem esses serviços no local de destino. Infelizmente, em alguns países a oferta ainda é reduzida ou inexistente, sobretudo nos mais pobres, pois aí a escalada está ainda longe de ser popular. Para além do grande potencial no terreno, é preciso quem pague as protecções permanentes que se fixam ao longo da via. Em Cuba, por exemplo, nos anos 90 alguns americanos descobriram o enorme potencial do Vale de Viñales e começaram a equipar vias e a doar equipamento a alguns habitantes. Muitos outros países ainda não tiveram essa sorte.
Para se iniciar na escalada procure sempre companhia experiente. É importante saber que a escalada é um desporto seguro, mas se não forem cumpridas as regras de segurança, poderá estar a pôr a sua vida em risco. Em Portugal é fácil o acesso a um curso de iniciação em escalada, o que poderá ser uma boa opção antes de se aventurar em rochas estrangeiras, caso este tipo de ofertas não existam no seu destino. Se for escalar com alguém que já tenha equipamento, provavelmente terá apenas de investir nos seus pés-de-gato – o calçado da escalada -, embora os mesmos não sejam estritamente necessários para vias fáceis ou muito fáceis. Poderá ainda ter de comprar um arnês, espécie de cinto onde se fixa a corda e equipamento, elemento indispensável na cadeia de segurança.
Se tem equipamento próprio e vai viajar, os limites de peso e as medidas de segurança actuais nos aeroportos podem complicar o transporte do material. Quando viajo levo normalmente a minha mochila de trekking de 75 litros, onde cabe todo o equipamento de escalada desportiva para duas pessoas – corda, expressos, mosquetões, arnêses, pés-de-gato -, artigos básicos de higiene e roupa até 12 dias. O peso total varia entre os 20 e os 23 quilos. Note-se que isto é para um destino onde não se espera chuva nem muito frio, o que permite levar roupas leves. Tudo o que poderá ser um pouco mais pesado, como botas e casacos, levo na bagagem de mão. O que nunca deverá levar na bagagem de mão são os mosquetões. Apesar de alguns aeroportos serem permissivos relativamente ao transporte de mosquetões na cabina, outros há onde são considerados armas potenciais, numa visão de “punho americano” adaptado. Se for fazer escalada no gelo, o piolet e os crampons vão para o porão, mas isso já você sabe, certo?
Neste momento talvez se esteja a interrogar sobre o porquê de incluir a escalada na sua Próxima Viagem. Mas a resposta não poderia ser mais simples: regra geral, a parede a escalar está situada num espaço exterior de grande beleza natural. Além disso, as formações geológicas que se procuram para este desporto não são propriamente as ideais para base do desenvolvimento urbano ou de outras estruturas criadas pelo Homem, daí que normalmente a viagem até ao local para escalar já vale a pena por si só.
Dos inúmeros locais onde já escalei, a memória mais presente, para além da estrutura da rocha, é sem dúvida a descoberta do caminho até aquela parede escondida que vimos num livro ou na internet. E depois de lá estar, é o desfrutar do local mágico ao qual nunca iríamos caso não fosse para escalar; o desafiarmos os nossos limites; o passeio perfeito cheio de vistas deslumbrantes; a mochila às costas com algo para o estômago, que independentemente do que seja, sabe-nos sempre muito melhor do que quando comido em casa.
Já alguma vez viu numa berma de estrada ou parque de estacionamento uma seta a indicar “local de escalada”? Pois é, não há! Excepto grandes e raras excepções, a regra geral é mesmo a falta de qualquer tipo de sinalização. Em França ou Espanha, os exemplos são um pouco melhores, mas o problema de fundo não é muito diferente do português. Ir escalar é muitas vezes juntar a uma curta caminhada um desporto recompensador: uma caça ao tesouro – de croquis na mão na busca de novas vias –, com a sensação de exclusividade, de vistas que ninguém vê e de estar em locais só alcançados por quem se faz à parede. É interessante que por muito bonitas que sejam as vistas do local onde estamos, quando subimos são sempre muito melhores. Há zonas sem grandes vistas, como a base das paredes envolta de árvores, mas assim que subimos a parede e passamos a altura da copa, temos a sensação da descoberta de um admirável mundo novo.
A escalada também é uma forma de redescobrir a natureza e ver que muitos buracos na rocha são esconderijos de pássaros ou antigos ninhos; que apesar da altura a flora é em tudo igual à que conhecemos no solo. A diferença nos cheiros, formações e estruturas rochosas são viagens pela história natural do mundo: arenisca, basalto, calcário, quartzito, granito, conglomerado, rocha vulcânica, são algumas das diferentes viagens sensoriais que a escalada lhe pode proporcionar. Aproveite uma delas na sua Próxima Viagem.
Parabéns pela partilha. Iniciámos agora este desporto e indentificamo-nos com cada palavra descrita no texto ... " entre a base e o topo da parede, fazemos uma descoberta de nós próprios" . Continuaçao de boas escaladas