Há mais de dois anos que queria fazer este percurso na zona do Monte Perdido e as expectativas eram muitas.
A beleza dos Pirenéus entrou-me pelos olhos e ouvidos, nas inúmeras fotografias ou relatos que fui vendo e ouvindo, facto que se manifestou na natural ansiedade com que esperei pela chegada das férias e do dia de partida. E a realidade superou todas as minhas expectativas. Vim de lá encantada!
Esperavam-me cinco dias de montanhismo e alpinismo nos Pirenéus, na companhia da Alpine Climbers, num pequeno grupo de 4 pessoas. Uma semana em travessia e autonomia total, numa grande rota em alguns pontos coincidente com o percurso do GR11, mas desenhada com o objectivo de fazer uma actividade de alpinismo, com a ascensão de dois cumes míticos nos Pirenéus: o Vignemale com os seus 3298m, e Monte Perdido que atinge os 3355m.
O ponto de partida foi Bujaruelo que, no plano cumprido, implicou a subida pelo Puerto de Bernatuara, com acampamento nos arredores da gruta Bellevue. Seguiu-se a ascensão do Pic Longue Vignemale, com passagem incontornável pelo glaciar, descida pelo vale D’Ossoue até Gavarnie e daí uma tirada para Bujaruelo. Depois a subida pela Pradera de Ordesa e Vale de Ordesa para Goriz, para daí fazer a ascensão final do Monte Perdido (3355m). A descida e o regresso a Torla foi efectuada pelo percurso do GR11.
Cinco dias de montanhismo nos Pirenéus em travessia e autonomia total, com o peso da carga para uma semana – tenda, fogão, alimentação e equipamento técnico de alpinismo –, mais do que os quilómetros e desnível previstos, foram definitivamente o grande desafio!… Estava por isso algo ansiosa, muito pelo desafio do peso, mas extremamente expectante.
Encantei-me pelos Pirenéus! São montanhas com uma magia qualquer que não sei bem explicar… Curiosamente, em muitas partes do percurso dei por mim a pensar nos Senhor dos Anéis, nomeadamente na descrição das paisagens das terras dos Elfos. Há algo de conto de fadas nas paisagens, talvez pela água abundante, o murmurar constante dos rios, as lagoas e cascatas, as aves de rapina nos altos, abutres, gaviões, grifos e uns bandos de corvos em gritos estridentes que batem nas altíssimas paredes e ecoam pelos vales, como que a sinalizar a nossa passagem.
Verde, verde e verde! Muitas flores e árvores nos vales, em contraste abruto, mas harmonioso, com a aridez rochosa e com os neveiros e glaciares das quotas mais elevadas. Animais por todo o lado; as manadas de vacas pirenaicas às centenas, a fazerem-se ouvir ainda antes de conseguir vê-las; o tilintar dos badalos em música de fundo a acompanhar os nossos passos. Marmotas aos saltos por todos os lados, na brincadeira, de pé sobre as patas traseiras, com as orelhas espetadas à escuta; à espreita nas suas covas ou deitadas nas rochas, tal como lontras ou lagartos ao sol!
Ovelhas deitadas nos neveiros e a fazer ski no gelo. Desta não sabia – ovelha sabe esquiar!… Fiquei estupefacta! Mas como elas têm um “casaco de peles cinco estrelas” e o calor era grande, pensando bem, talvez deitadas na neve se sintam melhor! Rebanhos imensos de ovelhas e cabras em constante movimento; cabras em alturas e terrenos surpreendentes, todos os dias a saírem e a regressarem aos currais, conduzidas pela perícia e incrível trabalho de equipa dos cães pastores…
Lindo demais para conseguir explicar… Que melhor se pode querer para uma semana de actividade em montanha?
Segunda parte: Ascenção do Pic Longue Vignemale (3298m)
Terceira parte: Ascenção ao Monte Perdido (3355m)
Sem Comentários