Um processo eleitoral também é uma viagem. E a política é a agência que oferece sempre e invariavelmente destinos de sonho. Quando o cidadão se deixa levar pela toada de promessas dos candidatos é como se viajasse no firmamento do imaginário – quer acreditar nas palavras mágicas e num futuro auspicioso. O processo eleitoral no Reino Unido findou e prolonga-se a excursão conduzida por David Cameron. Os Conservadores voltam a ter os destinos dessas nações na mão. E não julguem por um instante apenas que a política está dissociada da expressão aparentemente inócua do sector do turismo. Iria mais longe até – o chefe de governo de qualquer país está obrigado a manter um elevado grau de atracção dos seus territórios, numa óptica económica, mas talvez de um modo mais importante, de acordo com os seus valores identitários – a sua matriz cultural.
Aliás, grande parte da força britânica reside na sua expressão multicultural, ecuménica, emprestada pelo espírito dos estrangeiros ou por aqueles tornados ao “ex-império” e que se tornaram cidadãos de pleno direito.
A monarquia britânica – porventura um dos seus legados iconográficos mais poderosos -, serve para galvanizar a importância da tradição e suprir a falta de rituais que assolam as nossas sociedades tecnologicamente avançadas, mas cada vez mais afastadas de um arquétipo referencial. Nessa medida, os britânicos detêm grande parte do share desse conceito cosmopolita. Quando nos encontramos em Londres estamos de facto num reino que não o britânico. Encontramo-nos numa das capitais do mundo que vive dessa fragrância difusa, do blending de fontes diversas que confluem para um caldeirão de excentricidades. De um certo modo, as eleições no Reino Unido, representam algo muito mais amplo. Integram considerações decorrentes de uma sociedade dinâmica, de certa forma instável, e por essa razão dependente de âncoras simbólicas. Quando sentimos Londres, pressentimos o mundo. O concentrado cosmopolita dessa capital serve na perfeição enquanto local de embarque para o resto do mundo. Se eu fosse o “fado” das viagens inaugurais, certamente que recomendaria aos nubentes Londres enquanto destino de eleição. Cameron sabe que a longevidade britânica depende dessa relação intrínseca com o agente forasteiro. A hospitalidade britânica é uma marca registada, inabalável pelo registo amorfo de tantos que a querem amestrar. Quando escutamos as badaladas de Big Ben não nos sentimos excluídos. Sentimos o conforto das horas britânicas.
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