Assinada pela cúpula do regime nazi em 20 de Janeiro de 1942, junto às margens do lago Wannsee, no sudoeste de Berlim, a “solução final” foi um sofisticado processo que conduziu à deportação e consequente extermínio de milhões de judeus – o holocausto – em vários campos de concentração, essencialmente instalados na Polónia ocupada, como os conhecidos Auschwitz ou Treblinka.
Embora a guerra já tenha acabado há quase setenta anos, encerrando dentro desde longo período de tempo muitos dos seus ódios e efeitos colaterais, existem acontecimentos que não devem e não podem ser esquecidos. Há factos que devem ser lembrados para que não voltem a acontecer. O genocídio dos judeus, ou mais recentemente de tibetanos, cambojanos, ruandeses ou bósnios, não pode deixar a sociedade indiferente e fazer de conta que nada disto aconteceu.
É por isso que um pouco por todo o mundo foram erguidos memoriais ou monumentos que nos fazem parar para reflectir sobre a capacidade que os humanos têm em se autodestruir. O memorial ao holocausto, instalado bem no centro da moderna Berlim de hoje, é sem sombra de dúvida um desses lugares. Construído para evocar o genocídio de milhões de judeus na Europa, trata-se se um espaço marcante, mas também dos mais controversos que foram instalados nos últimos anos no centro da cidade.
Desenhado pelo aclamado arquitecto americano Peter Eisenmann, um dos precursores da arquitectura desconstrutivista, o memorial ao holocausto ocupa uma área de 4,7 hectares, entre a Potsdamer Platz e a Porta de Brandenburgo, e é constituído por um imenso aglomerado de blocos de betão, quase a fazer lembrar um cemitério com caixões distribuídos por diferentes níveis. A experiência em caminhar através deste enorme labirinto, junto a paredes que tão depressa alcançam meio metro, como logo a seguir dois ou três, é por vezes desconcertante e surpreendente. O impacto esmaga-nos perante a insignificância do nosso ser; a luz solar apresenta-se num caleidoscópio que se transforma a cada esquina; tudo parece em movimento constante, quase como que uma metamorfose, a cada um dos nossos passos.
O acesso ao centro de interpretação, que se encontra no subsolo, faz-se através de uma escadaria que marca a fronteira do antes e do depois. Os minutos seguintes, talvez horas, gastas em deambulações que, a casa suspiro, nos fazem confrontar uma triste verdade, não são um simples murro no estômago. São a verdade crua de até onde pode chegar a loucura do homem. O espaço expositivo está bem organizado e dispõe de um considerável acervo de réplicas de documentos e imagens referentes o período histórico em causa. As novas tecnologias têm também um papel importante na transmissão da mensagem e, sobretudo, da chocante verdade sobre o que significa a palavra “holocausto”.
Quando regressar ao exterior, talvez seja recomendável dispor de tempo. Dispor de suficiente discernimento para voltar à companhia dos 2711 caixões de pedra e procurar o significado de cada um deles. De não ter receio em se perder no labirinto emocional e procurar as respostas para as perguntas que irão estar a molestar o seu pensamento. A dimensão e escala do espaço talvez transmitam agora outra magnitude para a verdade e o terror. Afinal tudo isto aconteceu. Afinal tudo isto poderia não ter acontecido.
Memorial ao Holocausto de Berlim
Georgenstraße, 23
10117 BERLIM – ALEMANHA
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