Foi em Setembro de 2013, portanto há já dois anos que visitei a Índia. Foi uma visita ao de leve, talvez como alguém que toca com a ponta do dedo num objecto cuja textura lhe é desconhecida.
A Índia, um país que dificilmente alguém poderá reivindicar que conhece, é um subcontinente cuja história e civilização remontam aos primórdios da humanidade. Há mesmo quem diga que foi aqui que nasceu a civilização, versão na qual eu acredito, e não no Médio Oriente, como é a teoria aceite pela arqueologia “main-stream”.
Este incomparável país traduz-se numa vastidão de espaço geográfico e humano, impossível de conhecer na totalidade. Talvez com várias vidas se possa vislumbrar as raízes culturais desta região, o que vai de encontro às crenças de reencarnação que fundamentam a maior parte das religiões que subsistem no país.
A Índia é a terra das vacas sagradas e dos homens santos, dos mendigos e dos marajás, das religiões monoteístas e politeístas, dos rios sagrados onde flutuam cadáveres, das filosofias tão complexas que acabam por aflorar a natureza do espírito, das montanhas e das planícies, das monções e dos desertos, das multidões e dos ermitas, dos ascetas e dos filósofos, da democracia e das castas, do amor eterno e das guerras, do grande Kumbh Mela que se realiza a cada 12 anos.
O calor, a humidade, a luta pela sobrevivência, o salve-se quem puder, os cheiros, as texturas, as cores, a espiritualidade, as tradições, tudo forma uma intricada textura cultural maior do que a própria vida, muito provavelmente inalcançável na sua profundidade para o comum do mortal que se aventura por estas terras.
Ficam as sensações que povoam os olhos e os restantes sentidos; ficam as emoções que nos envolvem como um manto invisível, mas real enquanto caminhamos pelas ruas de cidades milenares como Varanasi; fica a sensação de partilhar o espaço e a cultura de um país mágico e transcendente, onde um olhar, manifestamente diferente, coloca em perspectiva o mundo e a humanidade.
Na Índia as sensações sobrepõem-se às palavras e o sentir sobrepõe-se à racionalidade.
A Índia é a terra das contradições.
A Índia é o impossível.
A Índia parece não existir, mas existe a cada segundo.
A Índia é o reino da alma.
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