Avaliação do editor
As migas e os pratos à base das carnes de caça são verdadeiras preciosidades.
De aspecto simples e sem grandes pormenores de valorização arquitectónica, o restaurante “A Palmeira” é uma agradável surpresa para quem ouse imergir no sabor dos segredos da cozinha típica alentejana. Prova disso são os vários prémios conquistados e o reconhecimento que lhe atribui o pódio para um dos melhores restaurantes da região.
Situado no alto da Vila de Cabeção, a pouco mais de uma dezena de quilómetros de Mora, este restaurante com capacidade para cerca de 80 pessoas, preserva ainda o espirito familiar que esteve na génese da sua criação. Fundado em 1983 por João Cravidão e sua mãe, o espaço tem procurado preservar o apurado trabalho culinário que ao longo dos tempos tem sido transferido entre as gerações da família. O nome terá sido inspirado numa palmeira, entretanto desaparecida, que em tempos cresceu nas imediações do espaço.
Constituído por uma sala única e ampla, o restaurante “A Palmeira” não é dado a grandes elementos decorativos, mas em contrapartida enche-se de luz natural, propagada através das enormes vidraças que se estendem em duas das suas paredes: as laterais que dão para um parque de estacionamento improvisado contiguo ao edifício e, as que se encontram junto à entrada principal, outrora espaço de uma esplanada entretanto anexado à sala de refeições. As mesas, forradas com toalhas de linho imaculadamente branco, apresentam-se aprimoradamente alinhadas em várias filas, ora paralelas, ora perpendiculares.
Embora o menu seja extenso e rico, há particular destaque para os pratos confecionados à base das carnes de caça. Das entradas, quase se podia fazer a refeição principal, mas não se entusiasme e guarde o ímpeto para mais tarde, ou terá de passar directamente para as sobremesas. Além dos tradicionais queijos e enchidos de porco preto, recomendam-se os torresmos do rissol, os espargos com ovo e camarão, os gaspachos e as sopas de cação ou beldroegas.
Nos pratos principais a escolha, além de vasta, é muito rica nos sabores que caracterizam o imaginário gastronómico alentejano. Começando pela tradicional carne de porco do alguidar com migas de batata ou os pezinhos de coentrada, passando pelo naco de alcatra recheado, borrego assado no forno ou arroz de cabidela de galinha, e acabando nas migas gatas com bacalhau, tudo são excelentes propostas que seguramente o irão elevar aos píncaros do sabor.
Há no entanto dois destaques que só por si valem a deslocação a este templo da gula: as migas com espargos selvagens e a sopa da panela de pombo bravo. O primeiro, além de sobejamente premiado, é um dos maiores cartões-de-visita da casa. Preparadas com empenho e consistentes no sabor, as migas com espargos selvagens, são servidas na companhia de uma generosa porção de carne de porco frita, constituída por nacos de carne, entrecosto e tiras de entremeada. Já o segundo é uma espécie de cozido com pombo bravo, facto comprovado pelos pequenos chumbos que pontualmente se encontram no aconchego da suculenta carne. Cozido em conjunto com pedaços de toucinho e chouriça, faz-se acompanhar de batata, cenoura e grão, cozidos em separado no caldo que sobrou das carnes. Chega à mesa em tacho de barro, perfumado com pequenos ramos de hortelã e serve-se em prato de sopa, previamente forrado com finas fatias de pão alentejano. Trata-se de uma verdadeira especialidade que sem dúvida eleva o sentido da expressão: “comer e chorar por mais”. Para os menos dados aos prazeres do sabor da carne, há um conjunto de pratos onde impera o bacalhau, assim como peixe fresco (cherne, robalo, dourada ou salmão) que pode mandar grelhar no carvão.
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