PSerá que a Índia pode ser considerada a tua segunda casa?
RSim. Porque a primeira é Portugal 😉
PO projecto “Até onde vais com 1000 euros?”, que realizaste com o Carlos Carneiro, teve um enorme impacto na rede digital. Como surgiu e qual o segredo para tal sucesso?
RSurgiu porque ambos decidimos que queríamos realizar algo neste sentido – queríamos realizar um projecto de viagem que fosse feito a sério, com objectivos pessoais muito definidos. E queríamos trabalhar para isso. O segredo do sucesso? Muita preserverança, alguma teimosia e uma estrelinha a dar sorte. E boas energias, claro. Boas energias atraem boas energias.
PNo decorrer da viagem chegaram a acreditar que a conclusão do projecto não era viável?
RAqui entre nós: nunca.
PHá um momento onde alegadamente só já dispunham de dinheiro para voltar a casa. Contudo, a opção foi prosseguir até Dakar e encontrar uma forma de regressar, sem que isso desvirtuasse o objectivo inicial da viagem, ou seja, não gastar mais que os 1000 euros definidos. Como é que foi tomada essa decisão?
RQuando realmente chegámos a esse momento, a decisão estava tomada. As bicicletas e o equipamento tinham feito parte do investimento original de 1000 euros. Ou seja: quando saímos de Lisboa, já só tínhamos 850 euros cada. Decidimos que, por muito que emocionalmente nos custasse, íamos vender as bicicletas. Queríamos trazê-las de volta, mas isso ia sair-nos caro, e ia atrasar-nos. Por isso seguimos até Dakar e vendemo-las pelo valor desse investimento inicial. Quiseram dar-nos mais, mas recusámos. Houve até quem nos oferecesse um voo de regresso para Lisboa – directo! Nem pensar. Fomos fiéis ao nosso projecto e voltámos com os 1000 euros. E só mesmo em Portugal é que ultrapassámos o orçamento, quando não resistimos a um bitoque. Ou seja, devíamos ter alterado o nome da viagem para “Até onde vais com 1000 euros e um bitoque?”
PHá algum episódio ou estória deste projecto que nunca tenha sido divulgada e que queiras partilhar neste momento?
RQue me lembre, está tudo no livro.
POs projectos com o Carlos Carneiro ficaram por aqui ou vês a possibilidade em voltarem à estrada e desenvolverem novos projectos desta natureza?
RClaro que sim, é uma questão de oportunidade e disponibilidade. Somos amigos e temos tantos quilómetros partilhados.
PJá que falamos em projectos de viagem conduzidos por mais do que uma pessoa, vês nesta forma de viajar uma vantagem?
RSim, claro. Mas depende do projecto. Cada caso é um caso.
PUm dos viajantes portugueses mais reconhecidos da actualidade, o Gonçalo Cadilhe, diz qualquer coisa do tipo: “quem viaja em grupo fecha-se dentro do próprio grupo e quem viaja sozinho abre-se ao mundo”. Concordas com esta ideia? Porquê?
RConcordo, em grande parte – mas como tudo, não tem de ser sempre assim. Muitas pessoas viajam sozinhas e estão completamente fechadas dentro delas próprias. O que é mais grave. Mas em grupo, naturalmente que as pessoas tendem a olhar para dentro, a conversar para dentro, a discutir as próprias opiniões, preconceitos, diferenças culturais. Sozinho, a viagem ganha outra dimensão. Mas há viagens e há viagens, claro. Algumas requerem essa partilha com amigos, não temos de ir sempre em introspecção, ou em pesquisa, ou à procura de qualquer coisa.
PAlguns meses após conclusão do projecto surgiu o livro homónimo, ao qual se seguiu a publicação de um guia sobre o “Caminho Português de Santiago”. São livros que surgiram pela força das circunstâncias ou tens manifesto interesse pela literatura de viagem?
REra nosso objectivo publicar um livro sobre o “Até onde vais…”. Tivemos a sorte de receber alguns convites, ainda antes de procurar editora – mas era um objectivo assumido. O livro de Santiago foi um convite da editora, que nos desafiou a realizar o Caminho e a preparar um guia para quem o quisesse fazer. São dois projectos diferentes, cada um interessante à sua maneira – e que surgiram como consequência de um esforço nosso em fazer disto profissão. Se tenho interesse pela literatura de viagem? Claro que sim. De viagem e não só. E espero um dia viver só disso 🙂
PTens outros projectos para publicações futuras?
RSempre. Tantos. Não tenho é tempo para os realizar todos.
PSe uma editora de formulasse um desafio para escreveres sobre o que te apetecesse, desde que relacionado com o mundo das viagens, qual seria o teu tema de eleição?
RE quem disse que não formularam, já? 😉
PActualmente consideras-te aquilo a que se chama um viajante profissional? Consegues sobreviver exclusivamente dos rendimentos obtidos com esta actividade?
RSó vivo dos rendimentos obtidos com esta actividade. Neste momento, não tenho quaisquer outras fontes de rendimento.
PE recomendas que outros se juntem a este grupo restrito de pessoas que conseguiu emancipar-se e fazer do sonho realidade?
RClaro que sim. Nesta área e noutras.
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