PCom estes projectos ainda há tempo para deambulações irracionais, isto é, seguires o instinto e aquilo que cada destino te reserva?
RAh isso é um belo sonho, reservado para os viajantes amadores, aqueles que juntam dinheiro, compram o bilhete de ida e partem sem ter que prestar contas a nada nem a ninguém. Consegui isso uma vez, que foi no ano dos meus 40 anos e que deu origem ao livro “1 km de cada vez”, e provavelmente só conseguirei de novo essa forma de viajar quando me reformar. (risos)
PÉ público o teu interesse pela literatura, porém só ainda assinaste livros de viagens. Nunca te sentiste seduzido por outro género? Um romance, por exemplo?
RTal como escrevia na minha primeira biografia pública (ou seja, a contracapa do Planisfério Pessoal, o meu livro inaugural) sou do género de “orientar a minha actividade literária pelo princípio sagrado de comer para escrever. E para pagar a próxima viagem. Ou a anterior, se ainda estiver com saldo negativo no banco”. Como podes ver, estou disponível para escrever quer um spot publicitário, quer uma autobiografia erótica. (risos) Digam-me só o que o mercado-alvo está disponível a pagar e eu escrevo. (risos)
PUm livro é então algo que podemos esperar nos próximos tempos?
RAcho que essa é a grande linha coerente do meu percurso de vida, uma vida onde “nos próximos tempos podemos esperar de tudo”, incluindo um romance.
PDos nove livros que já publicaste, há algum que queiras destacar? Porquê?
RDestacaria três, que têm uma coerência no meu evoluir: “Planisfério Pessoal” é a iniciação nesta vida; “África Acima” é a maturidade, e “Nos Passos de Magalhães” que é a ruptura na continuidade, ou seja, a necessidade de novos caminhos sem renegar os caminhos já feitos.
PDe todos qual te deu mais gozo escrever?
RTalvez “O Mundo É Fácil” porque tratei o leitor por tu, falando com ele e incentivando-o a viajar. Certamente o meu livro mais gratificante porque acho que contribui para melhorar a vida de muitas pessoas, é esse o feed back que tenho recebido dos leitores.
PQuem conhece um pouco da tua estória, saberá que ela está intimamente ligada ao Surf. Onde aprendeste a surfar?
RNa praia no fundo da rua, a partir dos doze anos. Foi o processo mais óbvio e natural da minha vida, crescer em frente ao mar, brincar na praia, mergulhar nas ondas, pedir uma prancha emprestada aos meus amigos mais velhos que já surfavam e voilà…
PO surf tem algum tipo de influência das viagens que fazes ou no tipo de escrita que produzes?
RNas viagens sim, pelo menos tento fazer desvios que permitam relaxar numa onda, muito do itinerário do Planisfério Pessoal aproveitou essas oportunidades. Mas não creio que se possa encontrar uma ligação à escrita.
PNa tua opinião, qual é o Top 5 das melhores ondas à escala global? Já tiveste o prazer de surfar em todas elas?
RPipeline (Havai), costuma ser votada pelos profissionais como a melhor em absoluto, mas eu não saberia surfar ali. Na minha opinião Jeffreys Bay, na África do Sul, é a melhor onda do mundo. Essa eu consigo surfar e já estive lá várias vezes. Fui muito feliz em La Libertad (El Salvador), em Arugam (Sri Lanka), em Chicama (Peru), logo acho que escolhia essas quatro para a lista das cinco. E depois, a onda do fundo da minha rua, que é efectivamente aquela que me sinto melhor, que é o point de Buarcos.
PNa verdadeira acepção da palavra porque é tão importante continuares a manter-te sobre a crista da onda?
Rhum, a resposta dava para escrever um livro. Homeopatia? Energia cósmica? Flutuação amniótica? Estar no mar, descer uma onda é efectivamente uma necessidade anímica.
PTambém tens uma ligação especial com a música. Aliás, um dos teus primeiros trabalhos enquanto viajante, foi precisamente o de guitarrista. Nunca pensaste aprofundar esta vertente profissional?
RNão, já há bastante quem o faça e melhor do que eu.
PConsideraste um bom músico?
RCompetente embora tecnicamente limitado. Daqueles que sabe bem em que terrenos se pode mover e quais os que seriam movediços. Uma espécie de one trick pony. Tenho o meu repertório e é melhor manter-me por lá.
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