PActualmente estás a liderar viagens de uma conhecida agência para o Irão. O que nos podes contar sobre a sua cultura, tantas vezes incompreendida pelo mundo ocidental?
RPosso dizer que não há ninguém que vá ao Irão e não se surpreenda. Os iranianos são muito provavelmente o povo mais hospitaleiro do planeta, e o país é um dos mais seguros para viajar. O curioso é que os iranianos têm a perfeita noção da forma como o ocidente os vê. Para quem duvida, sugiro que vá lá ver com os seus próprios olhos. Vai ficar surpreendido!
PPode-se dizer que é um país onde há claramente a questão política e tudo o resto? Onde muitas das ideias que se pretendem colar ao povo, são na sua grande maioria empoladas jornalísticamente e apenas defendidas por uma franja restrita da classe política?
RSem dúvida. Estou sempre a dizer isso: uma coisa é a política e os governos, outra são as pessoas.
PNo início do ano surpreendeste muitos viajantes ao ousares empreender uma nova volta ao mundo, desta feita em família. Está a ser muito diferente viajar com a tua mulher e a tua filha, a pequena Pikitim?
RTotalmente diferente. Ver os olhos através de uma miúda de 5 anos está a ser um privilégio, embora para mim, enquanto profissional, está a ser um pouco mais difícil. As coisas acontecem a outro ritmo.
PO que é que muda verdadeiramente quando se viaja em família?
RPara começar, viajar acompanhado é sempre diferente de viajar sozinho. A viagem deixa de ser a tua viagem e passa a ser a nossa viagem. É preciso compromissos. E o ritmo de uma criança é outro. Tenho menos tempo para fotografar e tenho conhecido menos gente que o habitual.
PDurante os 9 meses de viagem já decorridos, já foste presenteado com alguma grande surpresa? Com algo que não estivesses de todo a contar?
RSim. Ver a minha filha a falar inglês, por exemplo. A forma como ela se desenrasca, seja a conversar com crianças seja com adultos, é notável. Em termos de lugares, as Filipinas foram uma bela surpresa. Em termos de momentos, por exemplo, nadar com tubarões-baleia na Austrália e, posteriormente, com mantas nas Fiji, foi algo absolutamente incrível.
PAlgum episódio menos feliz ou que te deixasse intranquilo?
RSó as coisas relacionadas com a saúde da miúda. Quando, por exemplo a minha filha ficou 3 dias sem comer patavina (nem gelados ou chocolates) por causa de uma febre aftosa (quando depois comeu meia torrada quase chorei de alegria). Ou mais recentemente, depois de sair de Vanuatu, lugar onde a malária é um problema, ela começou a vomitar, aí sim, temi que a coisa fosse séria e mantivemo-nos alerta por alguns dias. Mas felizmente nada mais aconteceu.
PO que é que podes revelar aos leitores da Próxima Viagem de forma a que “o bicho papão”, para muitos o verdadeiro sinónimo de viajar em família, possa definitivamente ser desmistificado?
RAs pessoas têm medo do desconhecido e, por isso, o simples facto de verem que é possível pode servir para impulsionar outras famílias a darem o passo e saírem da “zona de conforto” mesmo com crianças. Aquela ideia de que “agora-que-tenho-filhos-não-posso-viajar-porque-coitadinhos-eles-podem-ficar-doentes-ou-é-muito-perigoso-e-tenho-de-esperar-até-que-eles-sejam-grandes” é uma desculpa como outra qualquer. Sabes o que o pediatra nos disse quando diagnosticou, à distância, a tal febre aftosa? “Isso também podia acontecer no Porto”. E essa é que é a atitude certa!
PÉ fácil, afinal, viajar em família e com crianças?
RÉ fácil, mas como disse é diferente e por vezes há momentos mais complicados de gerir. As crianças não suportam tão facilmente longas viagens de autocarro, por exemplo. Mas o truque é fazer de cada momento uma descoberta, nem que seja transformar uma dormida nos bancos de aeroporto numa nova aventura. Depende dos pais ter essa arte. Agora perguntas: já me irritei muitas vezes com atitudes da miúda? Já, claro. Exemplo: estás no único sítio do mundo onde é possível fazer uma determinada coisa e ela prefere, sei lá, ficar a fazer desenhos ou outra coisa qualquer em vez de aproveitar a oportunidade. Acontece, é irritante, mas temos de compreender que as prioridades das crianças não são as mesmas. E isso, sim, para nós nem sempre é fácil encaixar (mas, mais uma vez, também acontece em “casa”).
PNum período tão curto, notas alguma mudança no crescimento da pequena Pikitim? O que é que mais a tem fascinado?
RTodos os dias são dias de descoberta. Está a aprender coisas que não conseguiria no jardim-escola. Acho que vai ficar mais madura, mais tolerante. Já disse que queria ir à Índia e ao Brasil, que quer visitar amigos que conheceu nesta viagem na Suíça, em Ibiza e no sul de Portugal… enfim, acho que vai sair daqui uma cidadã do mundo (risos).
PO desenvolvimento deste projecto também assenta na importância e na divulgação do turismo sustentável, bem como na educação ambiental. Como vês o que se tem feito nos últimos anos a este nível? Achas que neste momento há uma verdadeira consciência, por parte dos viajantes, para esta temática?
RAcho que mais do que nunca as pessoas têm preocupações ambientais básicas, como reciclar e aquela frase lamechas do levar só fotografias e deixar só pegadas. Nas Gili, por exemplo, vi muita gente a reencher garrafas de água em vez de comprar novas. Se as coisas estiverem disponíveis é mais fácil os viajantes aderirem.
PEnquanto viajante, há algum segredo que nunca tenhas revelado e que o possas fazer neste momento?
RJá não há segredos no mundo.
[…] Leia o artigo completo em: http://proximaviagem.com/entrevista/filipe-morato-gomes/ […]
É verdade! Como é referido logo no início, o Filipe é alguém que ama incondicionalmente as viagens, sabendo receber o que elas têm verdadeiramente para oferecer. O seu exemplo é inspirador e as suas palavras um convite a partir. Sem medos, constrangimentos ou receios.
bela entrevista!