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    Categories: Dicas de Viagem

High-cost no céu, low-cost em terra

A forma mais barata (low-cost) de viajar é a pé? De barco? Avião?… Em verdade adorava poder dizer que é de comboio, autocarro ou sem dúvida à boleia. Porém, a forma mais barata de viajar depende da distância a percorrer, dos pontos de origem, destino ou até da época do ano. Não há uma resposta única, há várias opções a ponderar. O preço do bilhete não é o único indicador do custo da viagem e as diferentes durações dos diferentes meios de transporte não devem, de todo, ser negligenciadas quando procuramos a forma mais económica de viajar.

Há anos atrás a forma mais barata de viajar era de autocarro e comboio. Viagens longas tornavam a carteira leve mas o corpo pesado: sonos mal dormidos, posições pouco saudáveis, comida a condizer; ao chegarmos ao destino necessitávamos de quase tantas horas de recuperação como as da viagem que tínhamos acabado de fazer. No planeamento de uma viagem, estas horas devem ser contabilizadas em termos de custo temporal, pois se para um jovem em férias de Verão o valor do tempo é relativo, não se pode dizer o mesmo para um assalariado em férias reduzidas.

Nos dias que correm, na maior parte dos casos, a forma mais barata de viajar é em companhias aéreas low-cost. Porém, quando os bilhetes atingem tarifas elevadas – nem sempre aquilo que parece é verdade – o viajante com baixo orçamento vê-se obrigado a pensar em alternativas, nomeadamente na via terrestre e marítima. Proponho abordar algumas delas.

Boleia

Começo pela minha favorita, talvez um pouco radical para alguns: andar à boleia. O que lhe parece Lisboa – Berlim – Lisboa por cerca de 25 euros (viagem realizada em 1998)? Como sempre gostei do conforto, na mochila ia uma colchonete (hoje insuflável), um saco-cama fantástico, uma marmita em alumínio e um mini-fogão de campismo. Demorei tanto tempo na ida como na vinda, o que totalizou aproximadamente 4 dias para cada trajecto. Quando tinha fome cozinhava. Quando tinha sono dormia (normalmente 8 horas). A viagem começou nas portagens da auto-estrada A1, em Alverca, e acabou no centro de Berlim. Para poupar no relato das aventuras, fico-me pelas dicas.

O local para pedir boleia deve ser seguro para o automobilista parar o carro (antigamente as portagens eram ideais, hoje é mais difícil), pelo que bombas de gasolina ou parques de repouso são duas boas opções. Para viagens de longo curso, um bloco com o formato A4 e um marcador para escrever o destino são essenciais. Boleias que não nos podem deixar num local seguro ou com movimento suficiente para continuarmos a viagem, é uma opção que deve ser descartada. Evite ainda camiões pesados de mercadorias pois são demasiado lentos. Antes de aceitar uma boleia perceba se a mesma vale a pena, ou se o melhor é mesmo ficar onde está. Em Espanha, por exemplo, nuestros hermanos não gostam de dar boleia, assim, tente atravessar este tipo de países de fronteira a fronteira. Estas são as regras básicas, mas a idade e o aspecto de quem pede boleia também contam um pouco: depois dos 24 anos senti que esperava muito tempo por um carro, enquanto aos 17 era raro esperar mais de 15 minutos.

Hoje em dia já não ando à boleia por falta de tempo, mas dou boleia a todos os que esticam o braço. Os resultados são por vezes amigos para a vida ou o conhecimento de uma nova cultura e forma de estar. Andar à boleia não é viajar, apenas no sentido mais imediato que implica a deslocação, é uma viagem cultural pelas conversas que nos enriquecem e pelas pessoas que encontramos. Entre carros da máfia russa, de um alemão ex-presidente de uma petrolífera ou casais reformados que insistem em oferecer dinheiro, há experiências distintas, únicas e só alcançáveis aos poucos que ainda hoje ousam pedir boleia.

Esticar o braço e levantar o dedo é fácil e recomenda-se! Contudo, se quer ir à boleia mas não se imagina à beira da estrada com o braço esticado, a tecnologia pode ajudar: basta encontrar o seu condutor pela internet. Nesta variante não há apenas a boa vontade do condutor mas também um preço a pagar pelo percurso em questão. Normalmente é um preço mais baixo que o autocarro, comboio ou avião e serve para reduzir as despesas de viagem do condutor (combustível e portagens). É um sistema muito usado em países de grande dimensão geográfica como a Alemanha, França ou Reino Unido e tanto há viagens de longo como pequeno curso. Basta colocar a data, o local de partida e chegada, para muito provavelmente encontrar um condutor. Normalmente vêm especificados os horários da partida, o modelo da viatura, se são permitidos fumadores, o número de lugares disponíveis, espaço para bagagem e locais de passagem. Caso a oferta não o satisfaça, pode inverter os papéis e colocar um anúncio de procura. Nestes sistemas, a possibilidade em encontrar o que deseja será tanto maior se utilizar a página Google do país em que pretende viajar, ou pelo menos, utilizar os sites de boleia do país em questão. Eis alguns exemplos:

Alemanha: www.mitfahrzentrale.de | www.mitfahrgelegenheit.de

França: www.covoiturage.fr | www.123envoiture.com

Pode ainda utilizar um sítio internacional com hiperligações para páginas de diferentes países, como por exemplo, o espaço www.carpooling.com

Não esqueça porém que para certas viagens de longo curso, como é o caso de Milão – Paris, o custo com esta forma de viajar é de aproximadamente 70 euros, mas há companhias aéreas low-cost que fazem o mesmo trajecto por apenas 45 euros (para comparar tarifas aéreas de baixo custo, poderá utilizar alguns sites de agências online, tais como: eDreams, Netviagens ou Logitravel). Os condutores são normalmente simpáticos e modestos, colocando este tipo de anúncios apenas para reduzir o custo da viagem, pelo que dificilmente encontrará um condutor muito burguês nestas andanças. A maior parte são jovens estudantes ou trabalhadores, obrigados a deslocarem-se com frequência e que vêm nesta forma de partilha várias vantagens ao nível económico, ecológico e social.

Comboio transiberiano na viagem China – Mongólia.

Comboio ou autocarro

Outras alternativas: comboio ou autocarro? Mais uma vez a resposta não é única. Há países, como a Itália, onde o comboio tem um preço muito acessível para viagens domésticas; e outros, como a Alemanha, onde o comboio pode ser mais caro que o autocarro ou até mesmo que o avião. Nestes casos, porém, se o bilhete for comprado com alguma antecedência, via internet por exemplo, podem-se fazer óptimos negócios. Ter ainda atenção às promoções e tarifas especiais, como as viagens nocturnas com direito a beliche, porque além de poderem ser mais baratas, reduzem o orçamento do viajante numa noite de alojamento.

Nestes casos, tal como no habitual planeamento das suas viagens, a pesquisa na internet recomenda-se e impõem-se de forma a assegurar a escolha certa. Contudo, o preço do bilhete não é o único factor a ter em conta e há pormenores que não devem ser descurados: a duração das viagens (comboios regionais versus TGV), os tempos de transferência ou escala, a acessibilidade e distância das estações ao nosso destino final ou horários de chegada (quem quer procurar um local para dormir às 4h da manhã?), são uma série de factores que não devem ser esquecidos na procura do bilhete ideal.

Ferrys

Por último, a alternativa marítima: os ferrys; cruzeiros à parte. À semelhança dos aviões e comboios, os ferrys têm preços flutuantes que variam consoante a época e a procura; quanto mais cedo comprar o bilhete mais barato fica. Rara é a transportadora hoje em dia que não coloca os bilhetes à venda na internet – note que se comprar numa agência de viagens pagará uma pequena taxa pelo serviço. Tal como na opção ferroviária, tenha em conta o horário da chegada pois os portos podem ficar distantes do local onde gostaria de alojar-se. Normalmente há sempre táxis à espera e se nem sempre são o meio mais económico, por vezes são mesmo o único transporte disponível.

Se tiver de continuar viagem após chegar ao porto, tenha em atenção que pode não ter mais ligações para esse dia. Caso esta última possibilidade seja real, durante o trajecto do ferry tente encontrar uma boleia até ao seu destino final: pode falar com as pessoas, escrever numa folha o nome do destino e se puder ou quiser até escrever que paga a viagem. Com ou sem folha de papel previamente escrita, percorra os vários espaços do ferry porque muito provavelmente encontrará a sua boleia. Outra opção, que não deve ser afastada, é o facto de muitos ferrys transportarem autocarros de turismo; caso tenha dificuldade em encontrar boleia, há uma forte possibilidade em que haja lugares vagos por ocupar num desses autocarros.

Ferry entre ilhas, Escócia.

Para uma travessia nocturna talvez deva considerar a compra de um bilhete que lhe dê acesso a um camarote, que poderá ser privado ou partilhado. Entre o conforto do camarote e o bilhete simples há ainda uma classe intermédia – as poltronas. Estas estão normalmente reunidas numa sala que faz lembrar o interior de um avião, podem até ser relativamente confortáveis, mas estão longe do conforto de uma cama. Finalmente, se preferir ficar na horizontal mas não quer pagar o camarote, seja dos primeiros a entrar no ferry e tente reservar o melhor espaço para estender o seu saco-cama. Ao contrário do que lhe possa parecer, é um procedimento habitual nas viagens nocturnas e não é incomum ver os corredores, cantos e espaços almofadados ocupados por famílias ou viajantes solitários.

Com estas sugestões e dicas, não há desculpas para deixar de viajar só porque o preço do avião é demasiado caro. Existem inúmeras alternativas que poderá explorar através de opções terrestres ou marítimas. Pois… não falei das viagens intercontinentais. Ficará para a Próxima Viagem!