Expectante, levanto-me rapidamente da minha cadeira de pau, imaginando ainda um Mick Belker (Bruce Weitz), vestido de detetive disfarçado, com gorro enfiado pela cabeça, palito na boca e pronto para me dar uma mordidela, mas não…
“It´s me.” – Digo eu para uma jovem polícia que me estende o passaporte.
“Sure!” – Diz ela, sorrindo e com um tom meio trocista.
Sorrio de volta, ela volta a sorrir e entrega-me o passaporte. Quero fazer-me rapidamente à vida, pois não tenho grande interesse que a vida se faça a mim, mas não sem antes anotar alguns pormenores no meu diário de viagem. Por instantes dou comigo a pensar na vida e saio de mansinho, parecendo ainda ouvir o Sargento Phil Esterhaus (Michael Conrad) dizer-me a sua famosa frase:
“Let´s be careful out there! || Vamos a ter cuidado lá fora!”
Na minha vida tento sempre encontrar um princípio, um meio e um fim para qualquer boa história. Li algures, já não sei bem onde, que pensar na nossa vida faz o nosso cérebro desencadear os mecanismos necessários à produção de Cortisol (hormona que ajuda a reduzir o stress) e Ocitocina (hormona que, para além de outros benefícios, ajuda a desenvolver o apego e empatia entre pessoas). Isto dá-nos a capacidade única de nos ligarmos a algo ou alguém, mesmo que desconhecidos, através de um processo sem explicação aparente, mas que resulta muitas vezes numa enorme afeição. Quero com isto dizer que as histórias são aquilo que usamos para dar sentido às nossas vidas. Imaginem, por breves por momentos, que vivíamos sem a capacidade para compreender que a nossa história é efémera e terá um dia de acabar; que as nossas vidas eram infinitas como o Universo. O que seria então a nossa história? Ainda amaríamos? Teríamos prazeres resultantes da nossa vivência diária? Seria que estes pequenos e fugazes momentos, que significam tudo, teriam ainda a importância que lhes atribuímos?
As palavras que escrevo podem parecer à primeira vista simples rabiscos, pensamentos errantes ou o que quer que se lhes queira atribuir. Em qualquer dos casos, se prestarem melhor atenção, hão-de reparar que elas fazem referência a dias, locais, pessoas, cheiros, sabores, reflexões ou, melhor que tudo isto, às minhas próprias memórias; as mesmas memórias que julgo serem a única bagagem de mão que nos acompanhará no derradeiro check-in da nossa vida. É por isso que nunca me canso de dizer: “O Mundo mudou-me.”
Sem duvida o melhor episódio relatado com todos os pormenores vividos. Parece que estamos lá outra vez. Na realidade foi ao mesmo tempo divertido e também estranho por assim dizer. É a primeira vez que sucedia algo do género. Mas foi de longe um dos melhores e mais caricatos episódios que já vivemos em viagem. E ainda por cima, logo à chegada. Belo cartão de visita. Aguardo ansiosamente a continuação… aqui… no Próxima Viagem.