Nova Iorque fica num estado que tem o mesmo nome mas, por mais bizarro que isso possa parecer, a capital do estado é Albany. Pergunto-me se cabe na cabeça de alguém colocar “Albânia” como o nome da cidade capital do estado de Nova Iorque? É quase como se a figura do Zé Povinho, criada pelo mestre Bordalo Pinheiro, usasse na cabeça o chapéu do americano Tio Sam! Enfim, adiante… Faltavam poucos minutos para as 18h30 quando desembarcámos em pleno coração da ilha de Manhattan, onde os nossos “pés secos” se ficam temporariamente pela estação terminal de Pennsylvania Station, ou simplesmente Penn Station, como os americanos a tratam.

Três

Lá fora, na rua, apesar de o relógio apontar para as 18h45, os arranha-céus de Manhattan, na sua articulada assimetria, pareciam brincar com as luzes e as sombras. Enquanto lá em cima era dia e o sol brilhava, cá em baixo, nas intermináveis ruas da envolvente, parecia ser noite tal era a penumbra.

Agora, para acabar a epopeia iniciada em Lisboa, faltava chegar ao hotel onde iríamos ficar instalados nos dias seguintes: o Pan American Hotel, instalado em Queens. Para quem não sabe, ou chega pela primeira vez à cidade, fica com a impressão que Queens é um bairro de Nova Iorque, muito ao estilo do que Alfama ou o Castelo são para Lisboa, mas tal não pode estar mais errado. Uma cidade como esta, que só por si tem mais habitantes que Portugal, não pode ser constituída única e exclusivamente por bairros. Num dos próximos textos explicarei como funciona a sua organização.

Depois de perguntarmos a um chinês, dois mexicanos, três americanos, um francês, um indiano e não sei quantas mais pessoas, como poderíamos deslocar-nos da Penn Station para o hotel em Queens, lá conseguimos dar com a estação de metro mais próxima. Mal entrámos o nosso olhar fixou-se imediatamente nos militares, todos vestidos com camuflado de guerra, que se avistavam em grande número e um pouco por todo o lado. Para juntar ao quase aparato cinematográfico, em cada parede, vão de escada, banco, ou até no tecto, avistavam-se ainda enormes placas informativas com a seguinte inscrição: “If you see something, say something”. E logo por baixo o número da NYPD – Official New York City Police Department. A situação era quase surreal, mas há que não esquecer a data em que nos encontrávamos: 10 de Setembro, véspera da celebração do fatídico 11 de Setembro.

Ultrapassado aquele impacto inicial, nova contrariedade: comprámos os bilhetes errados! Em vez de adquirirmos os títulos de viagem para o metro, ou os passes semanais para utilizar na rede MTA – metro, autocarro e comboio –, imagine-se, comprámos bilhetes para o comboio PATH. Que nabos! O meu inglês da “border” deixou-me claramente ficar mal. Resumindo: teve de ser a Ana Maria, com o seu impecável inglês do Cambridge, a comprar os bilhetes que nos fizeram sair de Manhattan. Chegados à estação Grand Avenue Newtown, já em Queens, a Ana voltou a entrar em acção, mas desta vez para comprar os passes semanais – 31 Dólares ou 23,50 Euros ao câmbio de Setembro de 2013 – que iríamos utilizar durante toda a estadia em Nova Iorque.

Com a estação de metro a ficar para trás, foi numa curta caminhada que alcançamos o Pan American Hotel, situado na Queens Boulevard, já muito perto das 20h00. Instalaram-nos no quarto 437, ou seja, o quarto nº 4 do 37º andar. A vista prometia surpresas!

José Alberto Santos e Ana Maria no McDonald´s em Queens, Nova Iorque
Jantar no McDonald´s da Queens Boulevard, Nova Iorque.

Depois convenientemente de instalados, saímos para jantar numa das salas de refeições mais famosas da América: o McDonald´s. Sem grandes surpresas, o restaurante não era muito diferente do que estamos habituados a encontrar na Europa, mas o refill das bebidas era nice! De volta ao hotel, era tempo de recolher ao quarto, apagar as luzes e deixar-nos contagiar pelo silêncio da primeira noite nova-iorquina. E antes de cairmos nos braços de Morfeu, lembro-me de recordar, ainda que fugazmente, o lema do momento em Nova Iorque: “If you see something, say something”. Que ninguém diga que não soubemos onde estivemos. Para onde iríamos no dia seguinte? Isso são palavras para outra viagem!