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    Categories: Crónicas de Viagem

Retrato de estação

gente de um lado e de outro.

no ritmo frenético de um cosmopolitismo que em lisboa a pouco e pouco vai crescendo. novos. velhos. crianças de mão dada com seus pais. homens de fato e gravata. casais de namorados. gente apenas a ver montras. gente a dormir por baixo das arcadas. gente apressada. num ritmo próprio de quem efectivamente vai apanhar comboios. deste modo se confirma que afinal as teorias vêm da prática.

a oriente existem vários retratos.

o café da manhã. sempre à mesma hora. no mesmo local. com os mesmos olhares. os mesmos sorrisos. o jornal. a leitura na diagonal da capas de revista e dos jornais que nos falam do mundo. do real e do imaginado. discute-se a bola. os políticos. os artistas e a nova sequela da novela da estação que a maioria diz que não gosta mas que depois vê.

gente que sobe e desce nas escadas rolantes. esses objectos que nos transportam como se tivéssemos a fazer uma viagem ao centro da terra. eu sei que não faz sentido. mas uma escada rolante, sempre me lembra júlio verne. novos comboios. nova enchente. apitos. vozes no altifalante. linha 5. regional. azambuja. um ritmo frenético e a pouco e pouco novamente o vazio. a pouco  e pouco escutamos os passos. nesse ritmo cadente. das rotinas a que nos habituámos. que nos queixamos. mas que mais tarde, anos mais tarde nos deixam um rasto de saudade.

livros no meio da praça. a cultura a invadir a estação. nas idas e vindas nos suburbanos de lisboa. novamente jornais. palavras cruzadas. um músico. as artes no meio da estação. violinos. quase a lembrar uma orquestra. escutamos a música e pomo-nos a ver montras de agências de viagens. a oriente temos o retrato genuíno do que somos. e do que não somos. das máscaras que transportamos. que criamos. que todos os dias nessas idas e vindas da grande cidade nos limitamos a usar.

no ritmo frenético da estação somos todos iguais. não há diferenças sociais. o que nos distingue é apena a cadência dos passos própria da idade. sentamo-nos. alguém nos olha e nos faz perguntas. o senhor está a escrever alguma estória. estou a falar de si. mas nós não nos conhecemos. por isso mesmo. deixo as palavras serem livres. é assim como esta viagem de comboio. todos os dias. partimos e chegamos à mesma hora. todos os dias fazemos o mesmo percurso. é por isso que fecho os olhos sempre que se inicia a viagem. eu sei que são apenas meia dúzia de minutos. mas todos os dias viajo a um lugar diferente no mundo. ontem voltei a estar em roma. o senhor conhece roma. não. nem euas coisas são sempre mais bonitas quando as imaginamos. é assim como as pessoas antes de as conhecermos.

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  • Muito bom Faustino, adorei o teu texto e revi-me nele, porque todos os dias eu também viajo para um lugar do mundo diferente. Abraço