Em Georgetown – ilha de Penang, Malásia – conheci Luke, um surfista / carpinteiro australiano que vive há cerca de quinze anos na Indonésia. Nessa altura, depois de ouvir a sua história magnetizante – estava a acabar de construir, com as próprias mãos, a sua casa / mini resort em Tanahmasa – e dele me mostrar a localização da ilha – um pequeno e remoto “ponto” no oceano nas imediações da ilha de Sumatra – fiquei fascinado, ainda para mais porque me havia sido oferecida a oportunidade de o visitar no que parecia ser um paraíso escondido.
Um mês depois, estávamos a reencontrar-nos na pequeníssima ilha de Telo – que partindo do porto de Sibolga e depois de um longuíssimo périplo de travessias entre ilhas, demorou aproximadamente vinte e duas horas a alcançar – onde ele me aguardava com um pequeno bote a motor. A navegação final foi breve e realizou-se na presença de enormes nuvens e reflexos prateados no oceano, quando desembarcámos numa das praias da ilha de Tanahmasa, fomos recebidos por crianças sorridentes e curiosas. Fizemos então uma curta caminhada até sua casa, que fruto da sua história de vida, era para mim como caminhar para uma catedral. A cada passo, senti um respeito quase “sagrado” pelo local. Entrei lentamente e subi ao primeiro andar, para colocar a bagagem no quarto. Era simples, mas limpo e robusto, e o colchão um verdadeiro “luxo”. Quando regressei ao piso térreo, manifestei-lhe o respeito que sentia por ele e pelo fruto do seu labor.
Nos dias que permaneci nesta ilha totalmente isolada tecnologicamente, deambulei livremente; observei e tirei algumas fotografias a uma paisagem bela, virgem e vibrante de selva, coqueiros, praias de areia branca, dourada e coral partido (efeitos do tsunami que varreu o Sudeste Asiático em 2004), reflexos de céu espelhados em pequenas piscinas naturais, mar de múltiplos azuis e verdes; encontrei alguns pescadores, barcos e canoas; senti tranquilidade e serenidade; passeei por pequenas aldeias, onde cumprimentei muitas pessoas amistosas e curiosas, e senti o seu calor humano; fui convidado a discursar num funeral!? (agradeci, mas ligeiramente atrapalhado recusei tal honra); visitei escolas repletas de crianças e senti a sua alegria infantil. Para além disso, fui pela primeira vez apelidado de turista por crianças e senti-me desgostoso com a situação – posteriormente, ao cair em mim, percebi que a conotação negativa da palavra estava na minha mente e não na das crianças. Ao mesmo tempo, tive a clara noção que no fundo era isso mesmo, um turista, quer aceitasse ou não a realidade, lembrando-me das palavras proferidas por um amigo na China: “Serás sempre um turista, a menos que estejas na tua terra natal!”; torrei esporadicamente ao sol; atualizei o meu diário de viagens; li o The Great Gatsby e apreciei a sua simplicidade lírica, bem como o excelente retrato que traça de uma sociedade, totalmente atual; ajudei o Luke em pequenos biscates – canalização, montagem de um esquentador…; fiz snorkeling algumas vezes e vi a beleza do sol a penetrar na água e a espalhar reflexos e cores, a perfeição dos tubos das ondas a serem formados, alguns peixes coloridos, o Luke a fazer pesca submarina e num dos dias… tentei pescar com ele, porém, fruto de alguns fatores – corrente forte, demasiada proximidade com Luke, coral pouco profundo, ondas constantes, algum cansaço físico e não ter força suficiente para armar um arpão, que mais parecia uma arma para elefantes – a experiência não foi a melhor e acabei a pensar: “não pode correr sempre bem, desde que não acabe mal!” A realidade é que a ilha de Tanahmasa, ficará para sempre guardada no meu coração e na memória como um paraíso escondido, um local dentro do mundo, mas que foi praticamente esquecido por este.
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