porque afinal tudo é sempre relativo. sobretudo quando nos pomos ao caminho e atravessamos estes campos. antes de vila nova. nessa terra que já foi aldeia. o verde da natureza, desta natureza que sempre nos fascina. tudo é sempre relativo numa aldeia. nessas aldeias perdidas no meio das planícies. no meio das serras. em qualquer parte do mundo.
em cada uma das nossas aldeias, o tempo tem uma dimensão própria. numa aldeia tudo é sempre festa. uma festa própria das gentes que as habita. das suas rugas. dessa marca do tempo. quando o sorriso aparece por instantes. por momentos fugazes. no meio da mais simples inauguração.
para uma aldeia. tudo é festa. a passadeira. a água. a luz. o sinal de trânsito. a camioneta da carreira. essa que nos faz regressar à infância. para nós uma aldeia. é sempre um regresso ao interior de nós. do tempo. de um outro tempo genuíno em que a felicidade era outra coisa. de imagens desfocadas do tempo. quem vive na grande cidade nunca irá compreender esse ritmo. essa forma própria de contar a vida. de contar as estórias de uma. de tantas vidas. aldeias conheço tantas. tantas e tão poucas. já por esse mundo fora. elas que me guiam. sempre num encontro de afectos. de partilha. de disponibilidade. da certeza, de que afinal, o homem, também é um ser possuído de valores. de bons valores.
talvez já não haja muitas aldeias com moleiros, mas são os moinhos que ficam. essas velas de pano. em roda. ao sabor do vento. em castro no largo da feira. no sopé da serra. no meio da neblina. nas noites frias de inverno. à lareira. nessa lareira onde o prazer é a conversa demorada. das virtudes de que a vida afinal se resume a simples factos. dessas manhãs em que o cumprimento, se traduz na mais elementar lógica. num arreigado ritmo diário. com dimensão espiritual num sétimo dia. onde a indumentária é a própria dos momentos solenes. ou na ida aos bailes. quando o corpo pede a si próprio um outro descanso. que não o da enxada. ou da terra lavrada.
é numa aldeia que te quero encontrar. e voltar a escrever cartas. dessas cartas demoradas. uma carta que chegue a tempo da inauguração da estação. quando descer do comboio. dessas carruagens que sempre transportam a saudade. eu de mala de pano. tu num aceno. nós num abraço apertado. desfazendo os nós e laços que a vida tem. em dia de festa. na aldeia. por alturas do lançamento de um livro. do livro. dessa memória de afectos. da nossa aldeia. a utopia pode ser um sítio lá longe. mas o romance é nosso. o romance que todos os dias escrevemos nas paredes brancas destas casas. de cada vez que folheares o livro. lembra-te. eu de mala de pano. tu num aceno. nós num abraço apertado. e as paredes. brancas. sempre. brancas.