A névoa matinal cobria num manto as águas paradas do Arno. Os arcos da Ponte Vecchio começavam agora a dissimular-se por entre a bruma que a cobria, como se fosse um lençol.
Tudo demasiado estático, sem agitação. As calçadas estavam limpas de beatas, e vazias de passos que habitualmente deambulam daqui para ali. Velhos reformados prostravam-se no parapeito, sobre os seus pés cansados, esperando que a alvorada os contemplasse com mais um grandioso espectáculo.
A cúpula do Duomo espreguiça-se lá em cima, despertando antes dos primeiros raios de sol.
Também eu esperei que a cidade acordasse do seu regaço, sentei-me numa esplanada na Piazza della Signora, junto a fabulosas esculturas procriadas pelos maiores mestres do Renascimento.
Aos poucos a vida foi tomando conta das ruas, transeuntes passavam apressados de um lado para o outro, distintamente vestidos, ao melhor estilo Italiano.
As conversas são perfeitamente audíveis e muito gesticuladas, intensas e sempre com um sorriso nos lábios, com o ênfase da língua ser cantada.
Tomei um delicioso capuccino, e deixei que o sol a destapasse, puxando-lhe o lençol de névoa aos poucos até a deixar a descoberto.
Florença é uma cidade soberba e um precioso monumento ao Renascimento, tendo despertado artística e culturalmente no século XV.
As ruas são rodeadas de palácios renascentistas, enquanto as praças se vão aos poucos inundando de gentes, que ainda hoje se reúnem para exprimirem sentimentos intelectuais, artísticos, de futebol ou da actualidade.
A cidade parece coberta por uma aura artística e sedutora, que embebeda os sentidos e faz-me sentir bem, como se ali quisesse viver para sempre.
As estátuas olham-nos como se sempre ali estivéssemos, os palácios abrem alas, consentido a minha passagem, enquanto as ruas empedradas parecem estender passadeiras para que nelas desfilemos.
O Duomo e o Baptistério, espreitam-me lá de cima e acenam-me dando-me as boas vindas.
Timidamente o sol vai destapando as ruas, as pontes, as praças, as estátuas e os palácios, puxando de soslaio o lençol de névoa. Sedutora, vai abrindo os olhos ensonados e meio adormecidos, enquanto os primeiros raios de luz lhe tocam no rosto.
O seu corpo em tons rosáceos permanece seminu, pondo-a a descoberto a qualquer olhar malicioso. As suas linhas são divinais, curvas e contra curvas delineiam-na tentadoramente.
Demorei-me no meu olhar tentando imaginar o que o lençol cobria, e esperei que o sol a pusesse a nu, sem pudores ou preconceitos.
A névoa levantou finalmente, e ali estava ela, bela como ninguém. A bela Florença.
A cidade respira arte por todos os poros, os museus são soberbos apresentando magníficas obras. A Galeria dell’Academia foi a primeira escola europeia criada para ensinar técnicas de desenho, pintura e escultura, encontrando-se aqui exposta a escultura de David em nu integral, feita por Miguel Ângelo em 1504. Tão real que parece humana, as mãos deste grande mestre davam vida à pedra.
No berço da cidade ergue-se o Duomo, dominando todos os telhados e a Piazza de Duomo que se espraia a seus pés. Caminhando em direcção ao rio, belos palácios observam as minhas passadas tranquilas, desde o Palazzo Stozi ao Palazzo Vechio, passando pelo Palazzo Corsini.
Entrei na Galeria Uffizi, e tomei um banho de cultura deliciando-me com uma colecção de pintura inigualável.
Inebriado por todo este meio envolvente, senti que um elo me unia à cidade para sempre.
Voltei à Piazza della Signoria, precisava senti-la com todos os meus sentidos, observa-la demoradamente, tactear cada estátua, cada coluna, cada fonte, ouvir o burburinho vindo das esplanadas e cheirar o aroma da felicidade que transpirava pelos meus próprios poros, somente por estar ali.
Florença encanta. Florença hipnotiza.
Transpus o Arno pela Ponte Vecchio, que liga a Florença renascentista à medieval. Percorri-a devagar, com receio de chegar ao fim, enquanto ela apenas brilhava com um sorriso nos lábios, de montras repletas de jóias preciosas.
Desemboco em ruelas estreitas e praças abandonadas, no antigo bairro medieval dos artesãos. O ambiente é calmo e provinciano, alguns homens jogam às cartas, enquanto duas senhoras fazem tricot e colocam a conversa em dia. Dia esse que ia caindo para o anoitecer.
Subi à Piazzalle Michelangelo já o sol da tarde se despedia. Como se estivesse a tocar o céu olhei-a enamorado, prisioneira das colinas num emaranhado de telhados e cúpulas, com o rio a dividir-nos.
Ao fundo no horizonte, a Ponte Vecchio deixava discernir a sua silhueta formosa, sobre um Arno prateado que a venerava à sua passagem, caminhando por debaixo dela.
A noite caiu suave sobre o Arno, sobre a ponte e toda a cidade, tal como as minhas pálpebras encerrando-me num sono descansado.
O dia amanheceu como o anterior, com a mesma névoa matinal que cobria a cidade ainda adormecida.
Tinha de partir, mas não a queria acordar. Tapada com o lençol de névoa patenteava um aspecto angelical de uma donzela adormecida.
Florença se fosse uma mulher ficaria rendida com tal paixão e intensidade demonstrada pelas palavras com que é descrita. Adorei a Crónica e fiquei com uma enorme vontade de conhece-la e poder sentir tudo o que me transmite o texto.
Ó mano da próxima vez, leva-me contigo, pois deixaste-me com água na boca e ao mesmo tempo sede de conhecer esta cidade.
Para quem nunca esteve em Florença, este é um excelente cartão de visita. Faz com que apeteça viajar até essa cidade com tantos encantos, e beber toda a sua cultura e todas as suas gentes. Quem sabe muito em breve não farei umas férias por lá para poder sentir as mesmas sensações.
Gostei muito deste texto, faz me voltar atrás no tempo, quando andava pelas ruas de Florença! De todas as cidades de Itália, com a excepção de Roma, Florença foi das cidades que mais gostei de visitar e ao ler este texto é como se estivesse lá, agora!
Parabéns pelo texto e continuação de boas viagens e crónicas! =)
A minha “próxima viagem” será a Itália, e Florença está nas cidades a visitar! Fiquei encantada com a leitura desta crónica de viagem. Queria partir já amanhã, mas terei que esperar mais duas semanas! Florença me espera. Sei que vou gostar. Já me apaixonei pela cidade.
Parabéns ao autor do belo texto.
Também eu desejei que o tempo parasse quando tive o privilégio de conhecer Florença.
Parabéns.
Muito bom.
Verdadeiramente fantástico e apaixonante!!!
Gostei muito!!
Florença,uma cidade fascinante. Através desta crónica, quem não a conhece terá desejo em conhecer. Quem já a conhece, jamais a irá esquecer.
Gostei imenso. Apaixonante!
Florença é uma das minhas cidades preferidas.
Consigo identificá-la em cada linha deste texto, fez-me reviver o dia em que a conheci, e também eu me apaixonei por ela.
Folrença merece esta carta de amor.
Adoro a cidade, adorei a crónica.
Querido Amigo.
Sabes que uma das minha cidades preferidas é Florença. Essa foto é simplesmenrte magnifica, e o texto faz-lhe toda a justiça.
Aquele abraço
Uma declaração de amor à cidade de Florença.
Muito romantismo nas palavras, até mesmo a linda Florença se deve ter derretido com a nobreza da carta que lhe foi escrita.
Parabéns o texto está fantástico.
Amei…