Hesito, olho para trás de mim, pensando que se dirigia a outra pessoa que não eu. Mas não vejo ninguém nas minhas costas. Nem em meu redor.
Dirijo-me ao barco, e agarro o saco de rede.
Com a mesma destreza que teria com menos trinta anos, o senhor, de pés descalços, salta de cima do barco para cima das pedras molhadas.
“Obrigado”, agradeceu.
”De nada. A pescaria foi boa.”
”É apenas uma distracção. Vai ser o meu almoço de hoje.”, disse sorrindo enquanto coçava a nuca.
”Belo almoço. Bom proveito.”
”Espanhol?”
”Não. Português.”
”Não é normal ver turistas por aqui.”
”Eu não sou turista. Sou viajante.”
”Já almoçaste viajante? O peixe é muito para mim, já não tenho o apetite de outrora.”
O peixe assado sobre brasas, e estava delicioso.
Foi um privilégio ter almoçado em tamanha companhia. Peixe acabadinho de ser pescado e num lugar paradisíaco.
Viajar é viver o país, viver as pessoas, e como é bom viver tudo isso!
A transparência continuava no ar, não havendo nada que me separasse de qualquer outro elemento, nem o ar, nem a água, tal era a sua limpidez.
As pessoas honestas e generosas, abriram as portas dos seus corações, dividiram refeições, manifestaram um comportamento límpido e sem subterfúgios, demonstrando também a sua transparência.
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