O céu continua azul. Entre os edifícios, ergo a cabeça aprecio-o, pontilhado por manchas brancas, representadas por gaivotas que planam aqui e ali, em paz.
Um pouco à frente, a animação é feita por um grupo de jovens que tocam e dançam uma espécie de folclore, animando quem passa, e contagiando todas as pessoas com a música alegre que entoam.
Entro no Palácio Rector, onde se realizam festivais de música clássica e de Verão, no meio de capitéis esculpidos.
Delicio-me com o Palácio Sponza, um maravilhoso edifício com uma impressionante entrada renascentista e janelas de estilo gótico. Um mimo para qualquer apreciador de arte.
Entro por uma rua, saio por outra, sem obedecer a qualquer regra ou roteiro. É bom divagar sem destino, como se estivesse embriagado pelo amor, e percorresse um corpo, com o intuito de o explorar até aos limites.
Dou de caras com uma pequena praça perdida entre muralhas, demasiado pequena para ser referenciada por qualquer guia. São estas pequenas praças, ruas ou fontes que dão personalidade aos lugares.
Sentado à sombra, no chão da velha praça, sinto o frio da pedra romana que me refresca o corpo, enquanto recupero forças. Espera-me lá em cima, a muralha. Tenho a sensação que vou subir ao céu, e desfrutar da vista privilegiada das gaivotas.
Subo ao céu, a vista é de tirar o fôlego. A cidade é um encanto.
Sinto que estou a pisar as nuvens, a beleza rouba-me as palavras. Aprecio-a em silêncio sentado nas muralhas.
Estão muito bem preservadas, tendo sido construídas no século XIII e reforçadas no século XV, para fazer face aos ataques Turcos, chegando a atingir em certos pontos 6 metros de espessura. Têm uma extensão de aproximadamente dois quilómetros e cercam toda a cidade antiga, chegando a atingir os 25 metros de altura.
Continuo mudo, apaixonado, estarrecido, sem adjectivos para classificar o que tenho diante de mim.
Vou convalescendo, recuperando o domínio sobre os sentidos., que me tinham deixado absorto de estupefacção.
Dentro das muralhas, um mar agitado pela ondulação das telhas vermelhas e ocres. Aqui e ali uma torre se levanta, como vagas em dias de tempestade, para de seguida dar lugar à bonança, reflectida na acalmia das praças.
Para lá das muralhas, o Adriático apresenta-se límpido e reluzente, sereno e interminável como se fosse um extenso chão azul, que me levasse no seu passeio, até à linha do horizonte.
Depois de percorrer metro por metro a muralha, o merecido descanso.
Enquanto percorro as ruas, cruzo-me novamente com as duas gerações de Italianos, supostamente pai e filho, que tinha visto inicialmente na Porta de cidade “Pilha”.
O miúdo corre atrás de uma bola com a camisola número 10 da selecção Italiana. Despreocupado, e talvez já esquecido que naquele sitio onde chutava a sua bola, muito provavelmente teria caído uma bomba, referenciada no mapa.
Como seria muito melhor este mundo, se todos fossemos eternamente crianças, desprovidas de interesses e maldades, apenas genuínas.
Entro no “Gradska Kavana”, atravesso o café para ir desaguar na esplanada com vista para o porto. É considerado o melhor café de Dubrovnik, a sua localização é excelente e a vista soberba.
Ao longo da costa entrecortada, vejo barcos de pesca atracados, o barco-taxi a partir para a cidade de Cavtat, e outros que levantam amarras para o passeio do piquenique de peixe, na ilha vizinha de Lokrum.
Sinto o sol bronzear-me o rosto, penso em tudo aquilo que os meus olhos tiveram oportunidade de ver. Olho em frente e aprecio a costa e a sua forma esbelta.
Tem uma personalidade forte, formas esbeltas, sedutora, sinto um amor à primeira vista. Como se quisesse resistir, e ao mesmo tempo quisesse deixar-me levar.
Abandono a cidade, com o coração cheio de amor e a bater muito forte, como se quisesse sair do peito e ficar ali para sempre.
Tento convencer-me que é apenas uma cidade, não uma mulher.
Subo a estrada, afastando-me aos poucos, olho para trás e vejo as muralhas ao fundo a flutuar no azul do adriático, aprecio novamente as suas formas, com a sua costa entrecortada, consigo perfeitamente distinguir-lhe o rosto, os ombros, os seios, a curva da cintura e até as suas longas pernas.
Sussurro-lhe ao ouvido.
“Amo-te Dubrovnik”.
Obrigado Ricardo. Tive oportunidade de conhecer Dubrovnik em 2001, a guerra não tinha terminado há muito tempo, e o turismo de massas ainda não olhavam para a antiga Jugoslávia como olha hoje.
Recomendo vivamente a Croácia. Abraço
Excelente texto! Por acaso, os meus dias de Dubrovnik foram de desilusão. Tinha ouvido os mais elevados louvores sobre o local, mas a intensidade do turismo por lá estragou-me todo o prazer. Assim que chgeuei já queria vir embora, e é muito pouco provável que regresse.