Desde Calais, há três formas de atravessar o Canal da Mancha, entre Inglaterra e França: de comboio, ferry ou Eurotunnel (um comboio especial que transporta veículos). Ora, em 2013, estávamos de carro, por isso apenas as últimas duas opções eram válidas. E como tínhamos uma ida e uma volta para fazer, combinámos ir primeiro de ferry e depois regressar de Eurotunnel.
Fomos logo de manhã cedo ao terminal dos ferries comprar o bilhete para o dia seguinte, já que os preços baixam significativamente se comprados com antecedência. Mesmo durante as 24 horas do dia há grandes diferenças de valores, dependendo dos picos de procura. Pedi preços a três companhias diferentes, que até se revelaram bastante semelhantes, por isso o critério da escolha recaiu no horário que mais nos convinha. E um dado interessante: apenas uma empresa permitia transportar passageiros sem carro e o preço era muito superior à viagem de quem tivesse veículo. Ou seja, para quem está a viajar a pé, este não é o transporte mais adequado!
De seguida, subimos ao restaurante no mesmo edifício para ter uma vista geral do terminal, que àquela hora parecia bem sossegado. Apesar do centro da cidade estar mesmo muito perto do terminal de ferries, e de aparentemente a cidade viver à volta deste constante tráfego de pessoas e de carros que entram e saem todos os dias, tudo me pareceu desnecessariamente confuso, mal sinalizado e até difícil de encontrar. À excepção da Rue Royale (bem cuidada e preenchida com bons hotéis, restaurantes e bares) e do grande e moderno centro comercial Cité Europe, a cidade de Calais pareceu-me como que “parada no tempo”. E, honestamente, tanto as pessoas, como as ruas, tudo parece passar uma imagem um pouco degradante, muito desorganizada e até “anti-turista”.
A começar pela forma como conduzem e estacionam os carros, sempre de qualquer maneira e em qualquer lugar (que assumo como uma característica francesa de encarar o acto de conduzir), e acabando na forma como recebem e tratam os visitantes estrangeiros, tudo acabou por me desiludir um pouco. Não estava de todo à espera que em Calais não houvesse um esforço para tentar bem receber ou até uma maior familiarização com a língua inglesa.
Devo começar por explicar que nos outros países por onde passámos antes, mesmo que nos respondessem que falavam “apenas um pouco” de inglês, fui aprendendo que com mais ou menos sotaque, mais ou menos vontade ou simpatia, a verdade é que o idioma era facilmente usado como base da comunicação. Em Calais, valeu-nos o francês escolar do Gonçalo, pois o meu está muito esquecido!
Mas apesar da decepção inicial, o dia até terminou de uma forma bem simpática na praia, quando descobrimos as cabanas de madeira em cima daquela areia fina, bem como uma exposição de fotografia, em plena avenida marginal, que abordava precisamente este tema – “cabines de plage”. Tratava-se de uma exposição de Philippe Turpin, que incluía uma imagem da praia da Nazaré, em Portugal, bem como uma zona com algumas actividades para desenvolver em família.
E foi aí que nos deixámos ficar, a ver os navios passar no horizonte e a imaginar a nossa própria travessia no dia seguinte.
Sem Comentários