Chegado ao grande Palácio Real, qualquer palavra é insignificante para descrever aquilo que os meus olhos vêem. A grandiosidade deixa-me estarrecido, quase trémulo das pernas perante tanta opulência. A construção deste notável monumento teve início em 1782, com o objectivo de servir de local de descanso para o Buda Esmeralda e de residência ao rei. Todo este espaço pode ser considerado uma cidade auto-suficiente dentro de outra cidade, a Banguecoque, envolvendo-a 1900 metros de muralha.
No interior das muralhas, sinto uma paz interior que me invade a alma. Inspiro e expiro paz.
O requinte salta à vista, desde os Chedis dourados, contendo um pedaço do esterno de Buda, aos templos decorados com estilhaços de cerâmica vidrada e brilhante, emprestando uma vivacidade muito própria.
Toda esta cultura muito diversificada, faz com que me sinta cada vez mais íntimo da cidade.
Fujo um pouco mais para a zona norte, refugiando-me do caos.
Dusit é um oásis de tranquilidade. De avenidas largas, edifícios antigos e estradas geométricas rodeando os palácios.
Este esplêndido parque oferece paisagens verdejantes, com os seus jardins meticulosamente tratados, por entre a elegante arquitectura e as mansões de teca.
O palácio Vimanmek é simplesmente soberbo. Considerado uma mansão vitoriana, tem toda a sua estrutura em teca dourada, tendo sido usadas cavilhas em madeira em vez de pregos.
Perante todo este paraíso, recupero energias e retempero os sentidos para regressar ao reboliço cosmopolita.
Já no bairro chinês, a confusão é total. Riquexós por um lado, tuk-tuks por outro, motorizadas pela frente, camionetas por trás, tudo se movimenta a uma velocidade estonteante.
Aqui toda a gente é negociante nata, tentando cativar-nos com uma parafernália de coisas que as suas montras oferecem.
Inebriado com as cores vibrantes, e os odores pungentes ao ritmo de uma azáfama frenética, deambulo pelas ruas estreitas que transbordam de mercados, e lojas com todos os artigos possíveis e imaginários. Aqui tudo se vende, é impossível querer comprar qualquer coisa que seja, que não exista num qualquer mercado ou loja.
No mercado de Kao, as frutas e os produtos hortícolas brotam viçosos das bancas, pairando no ar a fragrância da frescura, com se andasse num campo cultivado pouco depois de ter nascido o sol. Este mercado que quer dizer antigo (Kao), encontra-se neste local desde o século XVIII.
Ao longo da rua, existem várias casas comerciais, em garagens ou espaços enormes abertos, onde estão expostos todo o tipo de especiarias.
O negócio da família Klong são as malaguetas, apresentando-as em grandes cestos de vime de todas as cores e feitios, maiores, mais pequenas, verdes, vermelhas, amarelas, roxas e até castanhas. Um regalo para os sentidos, pelos aromas exóticos que emanam, e pelas cores e formatos exuberantes.
Passo por Sanchao Kun Oo, onde se aglomeram muitas pessoas em frente da cabeça de um cavalo dourado. Concedem oferendas e donativos de legumes, na esperança de um dia virem a ter sorte ao jogo.
As sedas escorrem pelas bancas abaixo, como se fossem cascatas de paraíso. As suas cores esplêndidas reflectem toda a exuberância e beleza do país. De cores vivas e acetinadas, brilham esvoaçantes por entre os dedos de quem as tenta acariciar.
É bom purificar os sentidos, e divagar nestes mercados que continuam com a sua forma rudimentar de negociar, tal como acontecia há muitos anos.
Desafio as origens e permito perder-me sem roteiros por aqui e por ali, seguindo apenas os instintos.
Dou por mim no mercado Mai, bastante invulgar para o conceito que tenho de mercado, mas decidi arriscar. Desde gafanhotos, a cobras e outro tipo de animais, para fins comestíveis e medicinais. É possível ver de tudo um pouco.
Tailândia é um dos países com as maiores redes de contrafacção, sendo muito vulgar em qualquer banca de rua comprar Rolex’s ou Brietling’s por 20 ou 30 euros, dependendo como a negociação é conduzida.
Em pleno centro da Banguecoque, deparei-me com uma banca de um feirante que vendia pólos Lacoste de todas as cores a 10 euros. Mesmo em frente a uma loja oficial marca, que tinha nos vidros a indicação de um desconto de 70%. Escusado será dizer que estava completamente vazia, enquanto o feirante não tinha mãos a medir.
Junto ao rio, aguardo pelo barco táxi que me há-de levar até ao mercado flutuante de Damnoen Saduak, situado a 100 quilómetros a sudoeste de Banguecoque.
O rio serve-nos de estrada, através dos muitos canais que se cruzam entre si, e bafejam casas suspensas em estacas, bairros de lata e outros bairros que mesmo sem ser de lata, são de extrema pobreza. Aqui e acolá, barcos fazem as vezes de casas, com pessoas à janela apenas sorrindo.
Um velho homem pesca com uma linha, numa das margens do rio de águas turvas. Será possível o peixe conseguir ver o isco?
Uma cidade em constante movimento. Não temos olhos para ver tudo o que se apresenta diante de nós. Há que lá voltar uma e outra vez, e muito fica por ver.