Nas montras exibem-se mulheres espampanantes de saias curtas e cinto de ligas, com poses provocantes. Umas apenas olham de soslaio, outras gesticulam dissimulando feições de prazer, na esperança de tentar quem passa.

Algumas são muito jovens e incrivelmente belas. Penso para mim, quais teriam sido as razões que as levaram a optar por este estilo de vida. Entre asiáticas, africanas, nórdicas, sul-americanas, todas se encontram expostas através de uma janela, como se fossem peças de carne humana, que vendem os seus corpos aos homens carentes dos prazeres mundanos.

O Bairro da Luz Vermelha é uma das principais atracções da cidade. Este nome deve-se às luzes que iluminam as vitrinas onde as prostitutas se exibem. Quando a cidade se transformou num porto marítimo no século XIII, ocorreu a regulamentação da prostituição, tornando-a num dos pontos mais procurados pelos marinheiros solitários, ávidos de mulheres depois de longas semanas passadas no mar. Actualmente o bairro é uma rede de ruas, onde sex-shops se intercalam por entre vitrinas e bares, com uma forte presença policial.

O dia amanheceu cinzento, como quase todos os dias. Transeuntes passeavam pelas ruas, enquanto turistas vasculhavam as bancas do Mercado de antiguidades. A praça empedrada de Nieuwmarkt é extremamente bela. Dominada pela Waag, a porta de entrada da cidade, que transformou este local num mercado no século XV.

Amesterdão é uma cidade que merece ser visitada a pé, não só por ser plana mas também pelo facto dos pontos de interesse se situarem relativamente próximos uns dos outros.

Nieuwe Zijde, conhecida com a “margem nova”, era zona medieval da cidade embora poucos vestígios restassem até aos dias de hoje.

A maior parte das casas são antigas e elegantes. Muitas delas datadas do século XV, espreitam por entre as ruas estreitas e diques.

Begijnhof foi fundado em 1346, para alojar as mulheres que sem ingressarem completamente na igreja dedicavam a sua vida a Deus. A casa número 34 é considerada a mais antiga da cidade. Os pátios arborizados são rodeados por casas de madeira e algumas igrejas.

Um rio de gente arrasta-me pela Kalverstraat, uma rua comercial inundada de turistas de todos os cantos do mundo. O seu nome teve origem no mercado de gado que se realizava aqui no século XV.

Depois de desaguar na Praça Dam, deparo-me com o Monumento Nacional construído em memória às vítimas da Segunda Guerra Mundial, um obelisco branco com 22 metros de altura ladeado por dois leões em pedra.

A miscelânea de raças que por aqui se cruza todos os dias é inquantificável, emanando uma aura colorida, no meio de uma confusão de tons, línguas e culturas.

Dou outro lado da Praça o magnífico palácio de Koninklijk, construído como Câmara municipal, ainda hoje é utilizado pela família real em ocasiões oficiais. As suas fachadas clássicas e esculturais glorificam o poder de Amesterdão como cidade rica e mercantil.

Em frente o Nieuwe Kerk, a segunda igreja paroquial construída no século XIV, tendo sido destruída pelo fogo, apesar deste não ter consumido o tecto esculpido a dourado sob o coro. A partir de 1841 todos os monarcas Holandeses foram coroados aqui.

No início do século XVII, o urbanista da cidade traçou numa área pantanosa, um bairro para albergar operários, cujas actividades tinham sido banidas do centro da cidade. Os antigos fossos de drenagens seguiam pelas ruelas estreitas e canais. A zona foi baptizada de “Jardim” pelos operários, sendo hoje conhecida por Jordan.

Estou sentado num banco, à beira do canal Herengracht, a chuva tinha acabado de partir. No rosto tocam-me pequenos laivos de sol, que conseguem perfurar por entre as folhagens das densas copas.

Imagino Amesterdão a preto e branco. Como é bela!

Penso que tem tudo a ver com uma película antiga, em que a ausência de cor lhe pronuncia os pormenores mais secretos, mais cúmplices de cada recanto.

Cerro os olhos com força, e concentro-me breves segundos. Abro-os novamente e tenho a minha Amesterdão a preto e branco. Preto e branco é como quem diz, com ausência de cor.

Mil e uma tonalidades de cinzento expõem-se, tantas quem nem sei descrever quantas. Sei que me permitem deslumbrar o mais ínfimo pormenor de cada casa, árvore, bicicleta ou barco.

Grafiti no bairro Red Light em Amesterdão
No “bairro da luz vermelha”, onde é proibido fotografar, as montras exibem mulheres espampanantes de saias curtas e cinto de ligas, em poses extremamente provocantes.
© Agostinho Mendes

Os passos de um par de sapatos engraxados e reluzentes, cruzam-se comigo no seu ritmo compassado, sem pressa nem vagar.

Os remos das balsas que batem na água, enquanto o ranger da madeira, acompanha a sua navegação lenta pelo extenso risco de cinzento do canal a perder de vista, ladeado por casinhas irregulares e pelas inúmeras árvores.

Uma mulher de pernas altas pedala uma bicicleta com um cesto à frente, veste vários tons acinzentados, uns mais escuros, outros mais claros, realçando-lhe o rosto esguio como todo o seu corpo, e de uma beleza Holandesa. À sua passagem uma brisa colorida, talvez emanada pelo perfume floral, ficou a pairar no ar.

Este deve ser um dos locais mais agradáveis da cidade, três canais paralelos chamados Herengracht, Keizersgracht e Prinsengracht construídos na época áurea de Rembrandt, no início do século XVII para receber a aristocracia.

As casas foram arquitectadas rente à água, permitindo que os aristocratas pudessem ver-se ao espelho quando saíssem de casa.