Foi com algum lamento que tivemos de nos despedir do Rio de Janeiro e voltar a fazer-nos à estrada. Voltámos às viagens com tiradas de 24 horas dentro de um autocarro, coisa que temos de reconhecer já fazíamos “com uma perna às costas”!
Chegados a Foz do Iguaçu, encontramos uma cidade relativamente pequena, onde os poucos turistas com que nos cruzámos seguiam apressadamente em direcção às cataratas. Nós tínhamos outra prioridade: encontrar o parque de campismo e montar rapidamente o acampamento, porque queríamos curtir o último sol de Março. O calor que se fazia sentir era mais húmido do que o do Rio de Janeiro, pelo que quando avistamos a piscina no hostel, sentimos um enorme apelo ao mergulho. O resto da tarde prosseguiu a um ritmo lento e de relaxe, até que nos decidimos aventurar num último rodízio brasileiro. Com fome e a um pequeno passo de deixarmos o maravilhoso Brasil, não queríamos atravessar a fronteira sem antes comer um suculento rodízio. Além disso, achámos que o merecíamos e que nos devíamos dar a esse luxo. De barriga cheia e cansados da longa viagem de autocarro, decidimos voltar à tenda para no dia seguinte acordar cedo e ver o que as cataratas do lado brasileiro tinham para nos revelar. Assim foi. Depois da alvorada e de aproveitarmos o pequeno-almoço oferecido pelo hostel, dirigimo-nos ao Parque Nacional onde ficam as Cataratas do Iguaçu ou, a “água grande” como eram conhecidas pelos guaranis. Fingindo ser brasileiros, ao ponto de esmerarmos o nosso melhor sotaque, ainda tentamos entrar gratuitamente, mas a senhora da bilheteira não ficou nada convencida. Enfim, acabamos por ser obrigados a comprar o bilhete de turista internacional.
Na entrada fomos ainda informados da existência de dois trilhos que poderíamos fazer, mas que não estavam incluídos no bilhete. Pensamos um pouco mas, e apesar de os percursos de mostrarem tentadores, decidimos aproveitar ao máximo o trilho incluído no bilhete que havíamos acabado de comprar. Depois de uns breves minutos dentro de um autocarro que leva os visitantes até ao início do trilho, começamos a caminhar e logo fomos presenteados por dois bons ”cartões de boas vindas”: um primeiro, onde um pequeno animal chamado quati não nos largava na esperança que lhe oferecêssemos comida; e um segundo, que era nada mais, nada menos, que uma primeira e bela vista das cataratas. Estamos apenas a falar de um primeiro avistamento das cataratas, mas suficientemente espectacular para não parar de fotografar e desde logo nos sentirmos maravilhados. De qualquer modo, tínhamos que avançar porque o trilho estava no início e ainda com muito para nos surpreender. Prosseguindo, sempre com as Cataratas do Iguaçu por perto, a paisagem revelou-se cada vez mais bela, o que levou a máquina fotográfica quase à exaustão, tal foi o número de imagens recolhidas e registadas no seu cartão de memória.
Embora o lado brasileiro das Cataratas do Iguaçu se faça em aproximadamente duas horas, nós optarmos conscientemente por demorar o dobro do tempo e admirar prolongadamente o quão fascinante é a Natureza. Isto é sem dúvida uma das coisas que aprendemos durante esta viagem pela América do Sul: não apressar a visita ou correr para ver um local. Não temos dúvidas que mais vale conhecer menos quantidade, mas bem, do que uma grande quantidade de coisas, mas mal. Dentro deste espírito, dispusemos do tempo que achámos conveniente para cada momento e o que o lugar merecesse. Foi um dia maravilhoso, onde voltamos ao parque de campismo mais felizes e com a consciência que o episódio cataratas ainda não tinha chegado ao fim. Faltava ver o lado argentino. Embora a generalidade das pessoas nos tivesse avisado que do outro lado da fronteira era muito mais surpreendente, nós estávamos não contentes com o que tínhamos acabado de ver, que optamos por não fazer qualquer juízo prévio de modo a não termos que enfrentar qualquer desilusão.
No dia seguinte, antes de partir, decidimos que pelo facto de já termos ficado num parque de campismo no Brasil, iríamos pernoitar num hostel no lado argentino. Era uma decisão que simplificava as coisas e que, sobretudo, nos poupava algum tempo de viagem. Depois de devidamente instalados, já dentro do Parque Natural, deu para perceber que a zona envolvente e as distâncias a percorrer eram bem maiores, facto que não nos transtornou minimamente pois estamos habituados a fazer caminhadas prolongadas. Logo no início do percurso, e como somos um bocado do contra, não avançamos para a vista panorâmica habitualmente feita pela maioria das pessoas. Nós estávamos com vontade de ser completamente surpreendidos com a força do local, tirar fotografias mais descontraidamente e desfrutar da mãe natureza com o menor número de pessoas nas imediações possível.
Após termos percorrido uma boa tirada do percurso, encontrado com os tais animais de nome quati e sorrido para umas quantas famílias de macacos, chegamos à ilha que fica situada no meio do rio. Trata-se de uma pequena ilhota, onde apenas é permitido um máximo de 750 pessoas, mas onde felizmente conseguimos estar incluídos. Lá, subimos umas quantas escadas e chegamos a um miradouro fantástico, onde se pode apreciar e obter uma maravilhosa vista sobre este prodígio da Natureza. Um deslumbre tal, que a alguma distância do episódio, sabemos que estávamos completamente rendidos e continuamos a não conseguir encontrar vocabulários para expressar o que vimos ou sentimos naquele momento. É demasiado difícil! A paisagem é de cortar a respiração e o melhor é que nem sequer ainda tínhamos chegado à principal atracção do parque.
Embora as condições metrológicas ameaçassem enviar alguns pingos de chuva, o certo é que o calor e a humidade eram tantos que, antes de prosseguir para o ponto alto do dia, decidimos arranjar tempo para um refrescante mergulho nas águas do Rio Iguaçu, bem como elevar os níveis de energia, ingerindo a deliciosa merenda que havíamos preparado. Recompostos, avançamos para uma viagem de barco, talvez com um 15 minutos de duração, até bem perto das quedas de água. O comandante da embarcação aproximou-se até uma distância considerada segura, não obstante suficiente para que todos pudessem sentir a força da água: uma experiência verdadeiramente inacreditável onde, no meio de valentes gargalhadas, todos queriam voltar. O passeio, apesar de relativamente curto, levou-nos a “três banhos de Catarata”, suficientes para deixarmos o barco como uns “patinhos”, mas repletos de um sentimento que nos encheu a alma.
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