cada terra. cada povo. tem o seu ponto de encontro. um local onde percebemos que afinal temos muito mais em comum do que aquilo que julgamos. aqui, na nossa terra, temos o café. ou dito de outra maneira. o central. mesmo que tenha outro nome, para mim será sempre o central. o central não é um café qualquer. tal como nunca o são os espaços onde nos encontramos uns com os outros. sempre que nos encontramos uns com os outros estamos a escrever páginas. páginas da nossa memória futura. a fazer história. a nossa própria história.
é por isso que mesmo fechado, mesmo que já não exista. o central não é substituível. não se substitui a memória dos afectos. dos momentos. no central, tudo tem uma perspectiva diferente. tudo tem o sentido próprio. de quando o tempo tem uma dimensão eterna. no central tudo é sempre mais prolongado. o riso. o choro. a alegria. a tristeza. o encontro. a despedida. no central não há crianças a brincar, ou as que há, parecem deambular num ritmo mais lento do que é próprio da sua idade. existe uma certa solenidade. uma espécie de ritual de iniciação. na qual só alguns parecem entender. em que a rotina do trago do café é simbolizada pelo trato, sempre familiar.
no central a história são as suas próprias estórias. que se confundem com o tempo. quantas conspirações. quantas revoluções. articuladas. quantas armadilhas preparadas. sentamo-nos. e imaginamos. a cada canto. a cada esquina. o sussurrar dos amantes. o dedilhar de um artista. o sonho dos poetas. o discurso dos políticos. gosto destes espaços propícios ao sentir da vida, que a arquitectura projecta. no central temos paredes. brancas. começam por ser sempre brancas. onde projectamos o sonho e as palavras. levantamo-nos. pagamos a conta. partimos.
mas deixámos as palavras. em cada canto. em cada esquina.
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