Chegámos à ilha de catamarã, desde Salvador, mas para sair escolhemos a lancha até Valença. E que boa escolha! Além de ser uma estreia para nós, foi também uma viagem muito mais rápida (menos de meia hora contra as duas horas para chegar). Sim, porque foi uma chegada atribulada. Apesar de até ter sido divertido no início, acho que a partir da primeira hora os miúdos começaram a fazer a contagem decrescente ao tempo que faltava para chegar, além da má disposição geral entre os passageiros do barco.
Só o paraíso que é o Morro de São Paulo, no estado da Bahia no Brasil, nos fez esquecer rapidamente o desconforto da viagem. Este terá mesmo sido um dos sítios de mais difícil acesso em que já estivemos. E não sei até se todas estas novidades nos acessos terá influência, mas a verdade é que esta ilha tem agora um espacinho especial nas nossas memórias de viagem.
Assim que cheguei soube que era diferente. E com o passar dos dias, foi-se tornando evidente que ali há o que noutros lugares raramente se encontra. Há turistas mas acho que dificilmente se tornará num destino demasiado popular pois não é fácil lá chegar.
Não há grandes resorts nem parques infantis, mas garanto que o aconchego das pequenas pousadas com o mar em frente ajuda a preencher as horas do dia de toda a família. Também não há grandes cadeias de restaurantes nem superfícies comerciais de renome internacional, mas há produtos e simpatia local quanto baste.
E depois ainda há os detalhes tão caricatos. Há carrinhos de mão com a palavra “táxi” desenhada, assim como que um aviso aos mais distraídos – que por ali não circulam carros, autocarros, comboios, eléctricos ou qualquer outro transporte motorizado e colectivo. Tudo o que encontrámos foi burros, carroças, tractores e bicicletas, não só para para transportar as mercadorias dos que lá vivem e trabalham, mas também as bagagens dos que chegam e partem diariamente.
As praias têm nome de número – 1ª até 5ª praia – classificação que recebem dependendo da sua proximidade ao centro da localidade. São todas de areia fina, água quentinha e com muitos coqueiros – exactamente como imaginamos que uma praia paradisíaca deve ser. Todas têm características diferentes, o que torna ainda mais fácil conseguir agradar a todos e adaptar as necessidades de cada um às diferentes horas do dia.
Estas foram as nossas escolhas: a 1ª para banhos (porque os meus filhos gostam de alguma ondulação); a 2ª para dormir e comer (de dia a areia enche-se de cadeiras de plástico e serviço às mesas, à noite ganha ambiente de requinte com muitas luzinhas acesas, bancas de venda e música ao vivo); e a 4ª para passeios (tem um daqueles areal de perder de vista).
É preciso lembrar que não existem grandes infra-estruturas (só há muito pouco tempo terminaram o estrado de madeira que liga a 1ª à 3ª praia, por exemplo) mas existe a certeza de estar num local seguro e ter a possibilidade de descansar rodeado de belas paisagens. Porque tudo fica muito perto, são precisas apenas pequenas distâncias, a pé, para se fazer tudo o que se precisa. E depois também há aquele ambiente próprio de um centro pequeno que se nota nos contactos pessoais.
Gostei tanto de ver as salas de refeições das pousadas sem portas, janelas ou vedações. Ali o clima assim o permite e a informalidade também. Aparentemente todos se conhecem e cumprimentam pelo nome próprio ao circular. E os hóspedes passam a ser uma extensão disso. Não é por isso de admirar ver agentes turísticos locais (os guias, como eles gostam de ser chamados) que entram na sala de pequeno-almoço, saúdam os presentes e perguntam a cada família quais os planos para aquele dia. Eu até vi quem, com a permissão dos responsáveis, retirasse uma banana do cesto e abandonasse a sala assim, naquela simples e prática degustação.
Tenho de admitir que gostei da abordagem. E foi assim o nosso primeiro contacto com as actividades para famílias no Morro de São Paulo: aulas de surf, canoagem, slide, passeios de bicicleta, observação de baleias, voltas de barco. Experimentámos algumas, outras por diversas condicionantes (onde se inclui o próprio clima) não foi possível fazer. De qualquer forma, deixo uma dica: não percam o pôr-do-sol no bar do Hotel Portaló, mesmo em frente ao cais de chegada dos catamarãs. Foi definitivamente um dos mais bonitos a que já assistimos, com direito a estatuto de atracção turística!
Em jeito de resumo, gostámos de tudo… principalmente das experiências novas e daquele ambiente tão pitoresco, tão estival, muito alegre e descontraído, quase a fazer lembrar um cenário de filme. E o que eu gostei de estar a almoçar no areal e o Gonçalo avisar: “vou só ali dar um mergulho, volto já”. Ou de estar no quarto a arrumar a roupa nas malas e o Francisco quase implorar: “posso ir só ali dar um último mergulho, posso?”. E foram, porque o mar está mesmo ali e é simplesmente irresistível.
Há lugares assim, que nos marcam, que não esquecemos. E eu tenho a certeza que isso acontece quando os miúdos perguntam na despedida: “quando é que voltamos cá, mãe?”.
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