fechemos os olhos. escutemos apenas os sons.
o sapatear das gentes a passear na avenida. as gaivotas. carros a ir e vir num ritmo que já parece verão.
ao fundo. grilos. nessa baía que zeca imortalizou pela força das palavras e pela magia da sua música.
a ribeira hoje parece um daqueles espelhos de água próprios dos postais de férias em ilhas paradisíacas.
namorados. gente em passeio nocturno. desses que os médicos sempre recomendam, mas que só os tempos primaveris e as noites quentes de verão nos fazem sair do lugar. a lua anda escondida. e as estrelas ao alto. lá longe. como que a fugirem. talvez com medo de que lhes joguemos a mão. eu tenho esta estranha forma, chamemos-lhe assim, de facilmente me deixar enamorar. pelas pessoas. pelas terras. pelas gentes. sempre que parto tenho saudades. quando a vida tem outro ritmo. temos sempre saudades do tempo em que pouco mais importa que o som. o som do silêncio. dos momentos em que estamos apenas para nós. calcorreando pé ante pé. as pedras desta calçada tão portuguesa.
barcos que entram e saiem. ao largo luzes. verdes. vermelhas. uma espécie de guias de salvação em momentos de aflição. sempre que um barco entra. elas seguem-no. as gaivotas são uma espécie de comité de boas vindas, que me encantam e que fazem as delícias dos turistas. cada terra tem o seu ritmo. daqui também demos novos mundos ao mundo, talvez por isso a imagem que sempre fica são as velas na marina, nessa espécie de regresso a um reinado.
perdido nos tempos em que a vida se fazia por dentro das muralhas. é claro que também há praças. mercados de rua. torres sineiras. relógios de sol. sinos a badalar, nessas cantigas próprias das nossas igrejas. e há uma fala própria de gente habituada a ter que lutar.
é assim que eu vejo o mundo. às vezes. só às vezes.
quando a ribeira corre devagar. lentamente. e se perde no mar.
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