Há muito que ouvia falar sobre a Linha do Tua. Envolta em polémica devido aos acidentes que por vezes lá ocorriam e, mais tarde, devido à barragem que se irá construir ali, este é um local que se tornou conhecido após alguém resolver que era engraçado fazer a Linha desativada a pé e ter descoberto uma experiência fantástica. Há muito que o objetivo de fazer a Linha a pé estava no meu imaginário, mas foi preciso uma conversa entre amigos num batizado para a coisa ganhar forma e força. Juntaram-se os que puderam e no início de Agosto lá fomos.
Fazer esta Linha é uma coisa extraordinária. Primeiro que tudo, porque temos uma vista única do vale do Tua. As estradas passam todas lá em cima dos montes, enquanto a linha acompanha o curso do rio cá em baixo. É a possibilidade de ver tudo sob uma perspetiva diferente. Aliás, o percurso de carro que vai da Foz do Tua ao Cachão, que fizemos no regresso, tem mais 20 kms e raramente nos dá uma vista do rio e do vale. Por isso, fazer este percurso a pé permite uma experiência única.
Por ser uma linha que está desativada, e onde, supostamente, é proibido andar, nada está preparado para receber o caminhante: não há albergues, pontos de água regulares, ou sequer informações sobre o caminho. Por isso, a solução é utilizarmos as indicações que vamos vendo nos blogues de quem já fez o caminho e decidiu partilhar a sua experiência. Neste sentido, são muito úteis o blogue A Linha é Tua, que recolhe informações sobre a Linha e pretende sensibilizar para a destruição que a barragem vai implicar, e o Viajar entre Viagens, da Carla e do Rui, que relatam uma viagem de 2012. Com a devida vénia e agradecimento, pois foi neste último blogue nos apoiámos para a viagem, vou utilizar a base deles e atualizar aqui algumas informações que eles têm e acrescentar outras que vimos e soubemos em Agosto de 2013. Exatamente porque é um caminho que não está preparado para receber turistas (no posto de informação em Mirandela não havia uma única informação disponível sobre o caminho), as condições vão-se alterando: há estações que estavam fechadas e que entretanto foram abertas porque se deitaram abaixo portas emparedadas, e estações que estavam abertas e entretanto foram fechadas. Neste sentido, a 1 de agosto de 2013, este foi o caminho que realizámos:
Dia 1
Partimos de Lisboa pela manhã. O objetivo era evitar a hora de maior calor na estrada. Como somos de Almada, planeámos uma viagem de 4 dias: o primeiro para viajar até Mirandela, dois dias de caminhada e o último para regressar a casa. Para Mirandela há quase sempre autoestrada. Fomos pela A1 até cruzarmos com a A25, na qual fomos até apanharmos a A24, e depois saímos para Mirandela. Antes de mais, um desabafo: eu gostava que alguém me explicasse como é que a A25 e a A24 são consideradas auto-estradas. Têm duas faixas para cada lado e o terreno é tão sinuoso que é impossível manter uma média de 120km/h em qualquer um dos troços, com descidas e subidas com 7% de inclinação, pelo que é inconcebível que se tenha de pagar portagens para fazer uma estrada nestas condições. Mas enfim, é o país que temos…
Chegámos a Mirandela e fomos almoçar ao restaurante Loureiro. Uma simpatia de gente, que nos serviram uma alheira à moda da casa maravilhosa, com uma tira de bacon e ovo estrelado, e barata. Fica o nome para que quem lá vá possa desfrutar do mesmo pitéu.
De tarde passeámos pela cidade de Mirandela enquanto o calor nos permitiu. Visitámos o Santuário de Nossa Senhora do Amparo, a Igreja matriz, passeámos pelo centro da cidade, e fomos parar a um café fantástico com uma esplanada sobre o rio. Os empregados não eram particularmente prestáveis ou simpáticos, mas a localização era óptima. Dali só saímos para a praia fluvial de Mirandela, um pouco ao lado, onde tomámos um banho que nos soube pela vida, tendo em conta o calor que estava.
Depois da banhoca, fomos até ao Parque de Campismo de Mirandela, local onde iriamos passar a primeira e a última noite. O parque fica a cerca de 1 km da cidade, e é conveniente ir para lá de carro, porque não sei de autocarros e a pé é um pouco longe para ir e vir da cidade. O parque é muito catita, pequeno mas muito bem arranjado, cheio de auto-caravanas e instalações que parecem mais casas que campismo, com antenas parabólicas, aparelhos de ar condicionado. Aliás, a ideia de campismo é algo que escapa a muitos destes “campistas”… : )
O parque custa 3,5€ por pessoa/noite, e mais 3,5€ por tenda/noite. Ter o carro lá dentro custa mais 3€ e eletricidade 2€.
O caminho da Linha do Tua tem de ser feito em autonomia, pelo que fomos às compras e abastecemo-nos dos mantimentos que iriamos necessitar. Gastámos 28€ para refeições de 2 dias completos para 5 pessoas, e ninguém passou fome. Aliás, ainda sobrou alguma comida, mas como tínhamos trazido barras energéticas de casa, é como se fosse ela por ela.
Dica: Se pretenderem usar o Parque de Campismo como base, pode ser interessante deixar a tenda lá no dia em que estão a caminhar. Têm de pagar uma noite que não vão usar, mas como o check-in fecha às 22h e só existe táxi de regresso a Mirandela às 20h, que pode fazer várias paragens, podem correr o risco de não chegarem a tempo ao parque para fazer o check-in de novo. E têm a vantagem de chegar do caminho e a tenda já estar montada… : )
Luis, algumas pedras no caminho que o táxi fazia tinham, aparentemente, formas de animais. Nós descobrimo-las a muito custo e com muito boa vontade, mas o senhor estava muito convencido que elas existiam… 🙂
“animais feitos em pedra…”?!
Estás a falar de quê exatamente? Explica um pouco melhor, sim?