Até alguns anos atrás, quem buscava desdenhar da “terrinha” dizia irônica e maldosamente que iria para Portugal e só depois à Europa. Porém, com a entrada na Comunidade Econômica Européia (atual União Européia) em 1986, o país recebeu investimentos, desenvolveu sua infraestrutura e também outros serviços básicos. Ao contrário do que se pensa, mesmo com a crise econômica, que desde 2008 tem feito os portugueses sofrerem, não há motivo para deixar de visitar o território lusitano. O turismo tem servido de grande fonte de renda para os portugueses, que fazem questão de receber bem os visitantes.
Hoje, Portugal é uma mescla da tradição, visível nos mais diversos costumes espalhados pelas diferentes regiões do país, com a modernidade, que mostra suas caras principalmente nas maiores cidades. O norte do país – mais especificamente as regiões do Minho e Trás-os-Montes – é conhecido por seu conservadorismo político e forte religiosidade, porém vai além e esconde lindas paisagens, charmosas cidades e vilas que merecem a visita.
Augustus e Joaquins
A maior de todas as vantagens ao visitar Portugal, especialmente o norte do país, talvez sejam as curtas distâncias. Ao desembarcar no Porto, se está a apenas 53km de Braga, a terceira maior cidade do país e capital do Minho. Também é conhecida como a “Roma Portuguesa”, por conta de suas incontáveis igrejas e por ser considerado o maior centro de estudos religiosos do país. Há um ditado popular que explica muito bem a posição da cidade no imaginário português: “Enquanto Coimbra estuda, Lisboa brinca e o Porto trabalha, Braga reza”.
Além disso, Braga até hoje guarda certo sentimento de orgulho por um dia ter sido a “Bracara Augusta” dos romanos. Em todo mês de junho ocorre o festival da “Braga Romana”, buscando reviver esse passado de mais de 2000 anos. A cidade, porém, se revitaliza constantemente, tendo sido escolhida a Capital Européia da Juventude em 2012. Além disso, conta com novos pólos técnológicos em sua periferia, impulsinados pela existência de um campus da Universidade do Minho na cidade.
O elegante centro histórico de Braga é bastante compacto e pode ser percorrido em um dia de passeio. Vale dizer que, se você chegar de carro na cidade, a melhor coisa a fazer é estacioná-lo e percorrer suas ruas a pé. As mais de trinta construções eclesiáticas concentram-se ao redor da Praça da República, responsável por fazer o elo entre a cidade velha e a nova, outra via de ligação é a Rua do Souto que encerra-se no Arco da Porta Nova, nova desde o século XVI. A Sé de Braga é sem dúvida um grande marco da cidade, fundada logo após a reconquista Cristã no início do século XI, no local de uma mesquista Moura. Foi a partir dali que a cidade se desenvolveu. Atualmente conta com características góticas e barrocas; em seu interior, além de antiquíssimos vitrais e azulejos, há três capelas e um museu do tesouro – a visita destes custa 3 euros.
A 5km do centro da cidade, no alto de uma colina, está Bom Jesus do Monte: construído no final do século XVIII, trata-se de um dos edifícios mais famosos de Portugal, marcado por uma dupla escadaria simétrica que leva até a igreja. Em cada um dos patamares há uma fonte que relembra as feridas de Cristo, os seis sentidos e as três virtudes. Outro acesso é um caminho montanha acima, com uma série de capelas que mostram cenas da Paixão de Cristo. Há também um funicular, ao custo de 1 Euro, que dá acesso à igreja. Todos os caminhos se destacam pelas lindas vistas da cidade e seus arredores.
Aqui nasceu Portugal
Guimarães, 25km ao sul de Braga, é chamada de “Berço de Portugal”. A cidade se orgulha por ter sido o local onde nasceu Afonso Henriques, que se tornou o primeiro rei de Portugal em 1143. Com pouco mais de 50 mil habitantes, seu centro histórico bastante pitoresco e conservado é considerado Patrominio Cultural da Humanidade – o que deu à cidade o posto de Capital Européia da Cultura em 2012. Para explorar a cidade, a melhor alternativa é caminhar por suas ruas tranquilas, assim como pelos diversos Largos e praças, desfrutando o ar provinciano da cidade.
O Largo da Oliveira pode ser um bom ponto de partida para o passeio: trata-se de um charmoso largo que conta com a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira – nome que remete à lenda de que, em 1342, a oliveira que fornecia óleo para a igreja morreu e retornou à vida depois que uma cruz foi pendurada em um de seus galhos. Logo ao lado, está a Praça de Santiago, marcada por casas de pedra e madeira; hoje está repleta de bares e restaurantes, e se agita durante a noite, influenciada pelos estudantes da Universidade do Minho que tem sua sede na cidade.
Subindo pela Avenida Alberto Sampaio e ladeando a antiga muralha da cidade, é possível chegar em menos de dez minutos de caminhada ao topo de uma colina onde se localiza o Paço dos Duques – um palácio fortificado, construído no século XV por dom Afonso, 1° Duque da Borgonha; foi usado como casa real por mais de um século, mas só foi restaurado em 1930, já durante o regime de Salazar. Hoje é um museu que expõe peças de uso cotidiano da corte; para entrar deve-se pagar 4 Euros. Um pouco acima está o Castelo de Guimarães, um dos mais importantes de Portugal, construído no século X, a mando da Condessa Mumadona Dias, para proteger o mosteiro dos ataques mulçumanos; foi restaurado nos anos 1940 e impressiona pelo seu tamanho, assim como por suas lindas vistas para a cidade.
A região central de Guimarães ainda se destaca pela grande prensença de doceiras e pastelarias, que servem diversas especialidades locais, como os “Jesuítas” – pequenos doces de massa folhada e canela. Já na encosta da Penha, a cerca de 2km do centro da cidade, está localizado o Mosteiro de Santa Marinha da Costa, fundado no século XII pela rainha Mafalda, a mulher de Dom Afonso Henriques. Ao longo dos séculos passou pelas mãos de diversas ordens religiosas até sofrer um grande incêndio em 1951. Atualmente é uma pousada de luxo: em seu interior, aberto à visitação, além da bela arquitetura, é possível conhecer o claustro, uma porta mocárabe, e uma grande sequência de azulejaria.
Morei uns 15 ou 16 anos em Braga e é de facto uma bela cidade para conhecer. Atualmente, conta com projetos inovadores, ligados à gastronomia, por exemplo, que contribuem para uma visão mais moderna de uma cidade bastante conservadora. Abraço.
São duas cidades maravilhosas de facto, mas quem as visita não pode de maneira nenhuma não passar pelo Gerês 🙂 é maravilhoso!